“Arrive & Drive”: os debates sobre o programa no kart rental

Push to Cast conversou com exclusividade com promotores de campeonatos da modalidade para saber o que pensam sobre iniciativa da FIA

Gaúcho de Kart Indoor 2023 - Rafael Pierre
Gaúcho de Kart Indoor tem chancela da FGA (Foto: Rafael Pierre)

Como não poderia deixar de ser, o lançamento da plataforma “Arrive & Drive” (“Corra e Pilote”, em tradução livre) pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) já começou a gerar debate no kart rental. Isso porque ainda restam dúvidas sobre como será a sua implantação ao redor do mundo. No Brasil, não seria diferente.

Em entrevista exclusiva ao Push to Cast, o presidente da Comissão Nacional de Kart (CNK) da Confederação Nacional do Automobilismo (CBA), Rubens Carcasci, foi enfático: “A CBA tem muito a contribuir”. Ele destacou a necessidade da entidade se aproximar dos grupos que realizam suas competições da modalidade e mostrar os benefícios dessa parceria.

Entretanto, algumas das palavras usadas pelo dirigente não caíram muito bem. “Enquanto ele (Carcasci) achar que é lazer, está tudo certo. Complicado vai ser quando ele ver o nível de organização e seriedade dos campeonatos”, ironizou um organizador em um grupo de WhatsApp.

Porém, há quem veja de maneira diferente e acredita que o debate é a melhor forma de entender a iniciativa.

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Reconhecimento da modalidade

O Push to Cast conversou com dois promotores de competições de kart rental no Rio Grande do Sul. A ideia foi de ampliar a discussão em torno da “Arrive & Drive”, incluindo críticas e elogios.

Para Jean Picolotto, do Serra Kart Racing (SKR), a força da modalidade em nível mundial deve ter feito a FIA dar mais atenção. “Acredito que a FIA tenha percebido esta tendência de crescimento do kart rental nos últimos anos. A acessibilidade, a segurança e o baixo custo que a categoria proporciona são os maiores atrativos”, avalia.

Jean Picolotto SKR - Marina Bastos
Jean Picolotto, da SKR (Foto: Marina Bastos)

Conforme ele, apesar de ser um esporte a motor, faltava regulamentação, campeonatos nacionais e mundiais homologados pela maior entidade do automobilismo mundial. “Acho muito positiva essa profissionalização do kart rental.”

Guilherme Corso, da Go Kart Racing (GKR), segue a mesma linha. “Hoje vemos que (o kart rental) não é apenas lazer. Pode ser o ponto de partida para a formação de novos pilotos”.

Corso fala com a experiência de quem promoveu o Gaúcho de Kart Indoor – Pista Fechada neste ano, um campeonato com a chancela da Federação Gaúcha de Automobilismo (FGA). “Atualmente, existem muitas competições que atraem mais pilotos do que as competições homologadas e que impacta economicamente para todos os envolvidos”, complementa. “Vamos ver como será o desenrolar dessa iniciativa.”

Oportunidade para quem quer se profissionalizar

Corso lembra que competições oficiais, chanceladas por entidades como federações de automobilismo, valem muito para quem pretende seguir o caminho profissional. “A participação nesse tipo de evento passa mais credibilidade e visibilidade, o que vai ajudar o piloto na prospecção de patrocinadores que possam ajudar a alavancar a carreira”, diz.

Ao mesmo tempo, diz o promotor, quem participa destar provas estará ao lado de competidores profissionais e experientes, auxiliando no aprendizado e no desenvolvimento.

Guilherme Corso GKR - Marina Bastos
Guilherme Corso, da GKR (Foto: Marina Bastos)

Já Picolotto, que organiza corridas há nove anos (incluindo estaduais da modalidade) ressalta o histórico gaúcho no kartismo e no automobilismo. “Acredito que também somos pioneiros em campeonatos de kart rental homologados”, lembra, em referência ao Gaúcho de Kart Indoor. “Os vencedores receberão os troféus de campeões na mesma cerimônia organizada pela federação com outros esportes automotores.”

Outro fator a ser levado em conta, conforme o piloto e diretor do SKR, é a segurança, uma vez que todos os eventos homologados contam com seguro para os kartistas – mesmo que amadores.

Como aplicar o “Arrive & Drive” no Brasil

Na já citada entrevista com Rubens Carcasci, o dirigente da CNK afirma que a proposta da FIA permite adaptações. De acordo com ele, as Associações Esportivas Nacionais (ANS, em inglês) devem identificar os pontos fortes e fracos da atividade em cada país. “Com o alinhamento da CBA com a FIA, acredito que poderemos usufruir da iniciativa, adaptando para a nossa realidade”, disse Carcasci na ocasião.

Enquanto isso não acontece, o promotores ouvidos pela reportagem dão algumas dicas.

Por exemplo, Picolotto espera uma regulamentação clara e objetiva. Também destaca que CBA e federações estaduais precisam se colocar como verdadeiros parceiros do kart rental. “Soluções e aprimoramentos para esta categoria podem aumentar o interesse por parte dos organizadores destes eventos.”

Corso, por sua vez, espera que a plataforma seja discutida de forma ampla com todos os envolvidos. “De nada adianta ter uma competição chancelada, mas com poucos participantes ou baixo nível técnico”, adverte. “Aumentando-se o número de competições chanceladas, pode-se dividir grids, desviar o foco dos pilotos, baixar o nível e até mesmo banalizar os campeonatos oficiais”, complementa.

Para ele, é necessário haver uma equação para que as competições não conflitem entre si. Outra preocupação, não apenas de Picolotto e de Corso, mas de todos os envolvidos, é em relação aos custos.

Geralmente, os valores costumam ser maiores em competições oficiais, como a necessidade de se ter a licença de piloto de kart indoor da CBA.

Tudo isso deve ser debatido ao longo do tempo. Afinal, como já disse Rubens Carcasci, um dos grandes desafios é a entidade nacional, por meio da CNK, se aproximar dos grupos para entender suas objeções e, quem sabe, mudar a perspectiva atual.

Ou, como consta na apresentação do “Arrive & Drive” da FIA, as próprias entidades podem promover suas competições oficiais de kart rental, deixando a escolha de participação para os pilotos.


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