A emoção de participar de um campeonato profissional
Na cara e na coragem, Guilherme Corso deixou a vontade falar mais alto e participa do Gaúcho de Kart nesta temporada
“[É] Um misto de emoções. Incrível como nesse esporte tudo parece certo, mas, no minuto seguinte, tudo parece errado.” Esta frase foi dita pelo caxiense Guilherme Corso, 36 anos. Um apaixonado por automobilismo que, como tantos outros espalhados pelo Brasil, encontrou no kart rental uma forma de matar a vontade de competir neste esporte.
Ao longo de três anos, tornou-se conhecido na Serra Gaúcha. Criou a Go Kart Racing (GKR), uma liga amadora que realizava, até 2023, suas provas no kartódromo da cidade de Farroupilha – próximo à cidade em que nasceu e mora, Caxias do Sul. A temporada de 2024 ainda está em stand by.
No Rio Grande do Sul, está na organização do Campeonato Gaúcho de Kart Indoor – Pista Coberta, única competição da modalidade homologada pela Federação Gaúcha de Automobilismo (FGA), desde 2023. E, nesta temporada, também promove o Campeonato Sul-Brasileiro de Kart Indoor, também com certificação da FGA, da Federação de Automobilismo do Estado de Santa Catarina (FAUESC) e da Federação Paranaense de Automobilismo (FPrA). Ambas a serem realizadas na Piquet Kart, em Porto Alegre.
Com todo esse currículo, era de se imaginar que Corso tentaria dar um novo passo em sua “carreira” como piloto. Sair do amador e embarcar em uma – de certo modo – aventura no kartismo profissional. Mas, como já falou certa vez o Piloto Push to Cast, Jean Picolotto, essa transição não é fácil.
O próprio dirigente-promotor-piloto (e, ainda por cima, trabalhador, como muitos competidores) confirma. A estreia no Campeonato Gaúcho de Kart, na prova realizada em Vacaria em abril, foi um momento de muito aprendizado. “E uma montanha russa”, ressalta, mas sem esquecer: “Foi uma experiência incrível.”
Uma experiência (bem) diferente
Se pilotos com mais experiência no esporte a motor enfrentam contratempos, seria ingenuidade imaginar que passar das competições amadoras para as profissionais não teria suas dificuldades. “Ocorreram alguns contratempos, mas é aquilo que só acontece com quem se propõe a participar e viver isso”, avalia, com a calma de quem pode analisar cada passo dado após a abertura da competição.
“Agora entendo muito melhor a vida de piloto, do preparador e etc.”, salienta. Isso porque foram necessários treinos e preparações técnica, psicológica e física para aguentar uma série de atividades em um fim de semana, na categoria F4 200kg – em que o conjunto Piloto/Kart devem atingir, no mínimo, este peso. “Vivendo a experiência, tudo faz mais sentido”.
Como o próprio Corso diz, competir de kart profissional é “mais do que sentar e acelerar”, em uma clara referência – talvez não proposital – ao programa Arrive & Drive, da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e que já começa a receber a atenção da Comissão Nacional de Kart (CNK), da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA).
Mais do que chegar e acelerar
Corso afirma que treinou, no máximo, quatro vezes antes da etapa. Dessa forma, percebeu que a estreia reservava muitas emoções. Afinal, fazia mais de dois anos que não sentava em um kart profissional – mesmo sendo proprietário de um. “No primeiro treino, não aguentei dar mais que 20 voltas”, conta. “Saí com ombros e pescoço destruídos.”
No segundo treino, a evolução apareceu: foram cerca de 40 voltas completadas no circuito, mas não sem incômodos. “Saí do kart quase vomitando e desmaiando”, assume. Junto com desconfortos físicos, veio a perda de peso – quase oito quilos em dois meses.
O resultado pode ser visto ao final da etapa inaugural do Campeonato Gaúcho de Kart: o quarto lugar na soma de resultados e um fim de semana completo de atividades. Como ele mesmo gosta de contar, entre risadas (claro), “fisicamente já foi um sucesso”.
“Eu pensei comigo mesmo: ‘a oportunidade apareceu esse ano, vou ficar zerado, mas se eu deixar para fazer com 50 ou 60 anos, estável financeiramente, não sei se estarei fisicamente apto e pode ser que não consiga mais. Então, aproveita que a vida é agora.”
Guilherme Corso
Respeito pelo Kart Rental
Apesar de focar nos karts próprios nesta temporada, Corso mantém o respeito em relação a todos que fazem parte do kart rental. “Te ensina muitas coisas, é competitivo e é uma forma mais acessível de te colocar na pista”, faz questão de explicar.
Essa experiência ajuda, principalmente, a entender as nuances de uma corrida, além de quando e como atacar e, claro, as táticas de se defender dos adversários. Mas, é lógico, a “coisa muda” quando se vai para uma competição com estes “mini-monopostos” próprios.
Como Corso destaca, são muito mais variáveis em pista. O piloto precisa ter um entendimento melhor do veículo e, para ser competitivo, precisa se desenvolver muito mais como kartista. Isso porque é necessário saber repassar ao preparador o que se sentiu durante a sequência de voltas e o que precisa para que elas fiquem melhores e mais consistentes. “Isso tu não tens no rental.”
Além disso, a responsabilidade é fundamental na hora de pedir qualquer ajuste à equipe. “Eles vão te escutar e tentar te ajudar. Mas, se tu falas alguma coisa só por falar, podes ir para um caminho completamente errado”, argumenta.
Aprendendo a ser crítico e “frio”
É comum, durante transmissões e análises de corridas, comentaristas falarem que tal piloto “é frio” e “não se deixa levar pelas emoções”. Guilherme Corso concorda.
Conforme ele, ao competir de maneira mais profissional – e em campeonatos que exigem mais investimento financeiro –, o piloto precisa fortalecer o lado psicológico. No seu próprio ponto de vista, tem que ser crítico sim, mas aprender a levar isso tudo como aprendizado.
“Muitas vezes, tem que se analisar o contexto inteiro, não apenas um fato”, diz.
O restante da temporada
Esta entrevista foi feita antes do Rio Grande do Sul ser atingido por uma tragédia climática histórica. Na época, Corso já se preparava para a etapa seguinte, prevista para 16 de junho, no Kartódromo de Guaporé, na cidade de Guaporé, na Serra gaúcha.
O plano era participar do Campeonato Gaúcho de Kart por completo, mesmo que isso custasse “um rim, um pulmão, uma partezinha do fígado”, como ele mesmo brinca. Isso porque, sem patrocínio, teve que tirar dinheiro do bolso e mexer em dinheiro que deveria estar guardado. “Mas, a oportunidade foi agora”.
Após analisar todos os gastos, confessa que até pensou em desistir. “Depois eu pensei comigo mesmo: ‘a oportunidade apareceu esse ano. Vou ficar zerado, mas se eu deixar para fazer com 50 ou 60 anos, estável financeiramente, não sei se estarei fisicamente apto e pode ser que não consiga mais. Então, aproveita que a vida é agora.”
Em resumo: “Se esperar o momento certo, esse momento nunca vai acontecer.”