Mais que coaches: Pais e mães de piloto
Ser pai e mãe de piloto exige muito mais do que investir no sonho dos filhos. Significa estar pronto para tudo: da vitória ao consolo.
“Eu já chorei umas três vezes depois do acidente.” Foi assim, de maneira franca, que Marcello Assumpção revelou seu sentimento após ver sua filha, Marcella (11), se envolver em um acidente na categoria F4 Junior durante o 58º Campeonato Brasileiro de Kart, no Circuito Internacional Techspeed, em Nova Santa Rita (RS).
A pilota, conhecida por suas habilidade e desenvoltura nas pistas e nas redes sociais, disputava posições quando, na última classificatória da F4 Júnior, recebeu um toque por trás e ficou no sentido contrário, sendo logo atingida por um adversário.
Resultado: bateram de frente e o kart do outro piloto se inclinou a quase 90 graus. Por instinto – e experiência – Marcella conseguiu desviar o corpo para trás e evitar o choque de um dos pneus em seu capacete.
Ficou apenas no susto.
Tão logo a pista ficou limpa, saiu do pequeno bólido correndo e partiu para o paddock.
“Depois do que ocorreu no ano passado, achei que ela não iria mais querer competir”, desabafou Marcello, ainda se recuperando do susto. “Mas logo ela quis retornar e agora está aqui.”
2022: o ano que o coração “apertou”
Uma das selecionadas do Seletiva FIA Girls on Track do Brasil neste ano teve um final de 2022 doloroso. Literalmente.
Naquele 1º de outubro, disputava a segunda corrida do SP Light quando um competidor à sua frente rodou. O instinto a fez acelerar o seu kart, na tentativa de desviar sem perder posições, mas não saiu como o esperado.
No choque, capotou e, na aterrissagem, o kart bateu em seu corpo. Fraturou a clavícula e o pescoço. Passou três meses de recuperação, com uma tipoia e colar cervical.
“Ela é competitiva demais, então já quer correr a próxima”, resumiu Marcello, que a acompanha em todas as provas.
A parte mais difícil de ser “pai de piloto”
Qualquer um que acompanhe competidores de kart ficará apreensivo durante as provas. E tudo ganha proporções maiores quando o seu grau de parentesco é em primeiro grau.
Por exemplo, Maicon Fleck sentiu medo e alívio na quinta-feira (12). Seu filho Arthur, de apenas sete anos, se envolveu em um acidente logo na largada da primeira classificatória da categoria Mirim.
Ainda assustado, permaneceu no kart, obrigando a sinalização da bandeira vermelha. Porém, para alívio de Maicon – e de todos os presentes – saiu para o centro médico e, já na sexta-feira (13), estava de volta às pistas. “Ele só se queixa um pouco de dor na perna, porque bateu na coluna do volante. Mas, de resto, ele está bem.”
Essa apreensão já tinha sido sentida por Maicon na quarta-feira (11). O kartódromo da região metropolitana de Porto Alegre ficou praticamente alagado. “Foi um dia perigoso, porque tinham muitas lâminas de água”.
Dessa forma, muitos pilotos rodaram em praticamente todas as baterias, principalmente nas que agrupam os mais novos. “Entrou água no motor dele, que falhava. Quando ele ‘dava o pé’ para acelerar, o motor vinha forte e rodava”, lembrou o pai.
Mesmo com tudo isso, segue investindo na carreira do filho, que vai para o segundo ano no kartismo brasileiro. Aliás, esta é a primeira experiência do Arthur em uma competição de nível nacional.
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Nervosismo x Euforia
Existem muitas coisas que chamam a atenção durante uma prova de kart. Entre elas, estão as disputas na pista, a organização das equipes e até mesmo os trabalhos entre coaches e pilotos.
Mas a reação dos pais com os movimentos de seus filhos também merecem um destaque à parte. Um desses exemplos é o casal Rafael Fronza e Fernanda Gehlen, pais de Joaquim Gehlen Fronza – o piloto mais novo do Brasil, com apenas 6 anos.
Durante o BR Open 2, evento preparatório para o 58º Brasileiro de Kart, Rafael já havia mostrado a que veio. Em uma das baterias de Joaquim, o pai se levantava da mesa perto do restaurante do Circuito Internacional Techspeed a cada passagem, ou se dirigia perto da pista para estimular o filho.
“Eu estou bem tranquilo”, disse Rafael, ao ser questionado se estava nervoso com o Brasileiro de Kart. Isso porque este é o primeiro ano do primogênito em competições.
Para se ter uma ideia, o piloto de Bento Gonçalves (RS) treinou por dois meses para este certame. “A gente já vê uma evolução dele.”
“Ontem (11 de outubro), na tomada de tempos, ele estava lá para trás, depois de vigésimo. Daí fiquei preocupado”, admite. “Mas, na última volta, ele conseguiu fechar em 13º. Eu vibrei muito e estavam todos olhando para mim”, divertiu-se com a situação.
O lado materno “da coisa”
Agora, se o pai faz o papel de “empurrador”, a mãe Fernanda cuida da parte mais de bastidores. “Eu evito que ele almoce antes da corrida”, confidenciou, enquanto esperava pela água quente para o seu chimarrão.
Essa “norma” tem um motivo muito importante: evitar qualquer problema durante a prova. “Ele precisa de tempo para fazer a digestão, né? Senão fica ruim depois”, ponderou. Entretanto, não resistiu aos apelos de Joaquim e do caçula Matheus (3): comprou um pirulito para os dois.
E é essa união que dá segurança para Joaquim seguir na promissora carreira. Independente do resultado obtido no Brasileiro, sabe que está só no início.
Após este nacional, a próxima etapa é o Campeonato Gaúcho de Kart – o mesmo que compete o seu conterrâneo Arthur Fleck.
Para a apreensão e, claro, entusiasmo de seus pais.