Por que investir em telemetria no automobilismo virtual?

Quando comecei no automobilismo virtual, em meados dos anos 1990, a única coisa que eu e muitos amigos fazíamos era competir sem muita preocupação. Entretanto, com o passar dos anos, a coisa ficou séria a tal ponto que surgiram muitos serviços para pilotos virtuais. Um deles, é a telemetria.

Durante muito tempo, não dei bola para isso. Assim como alguns pilotos da atualidade, sejam virtuais ou reais, achava que bastava o feeling para dar certo. Contudo, claro, estava errado. E quem me mostrou isso foi o meu amigo de longa data Eduardo Tomedi, fundador e engenheiro de dados da ETM Data Engineering.

Como a telemetria me ajudou

Foi ainda neste ano de 2022. Vi alguns coaches de simracing, como Wendel Parra e Vitor Genz, apresentarem um pouco sobre telemetria. Porém, era muito por cima e eu precisava demais.

Dessa forma, recorri à amizade com o Tomedi e o questionei se poderia me dar algumas dicas. De pronto, me pediu algumas informações e alguns dados do programa de telemetria que uso para me ajudar.

Em pouquíssimo tempo, já me mostrou onde eu errava e como deveria modular melhor os meus freios. Além disso, deu outras dicas básicas para manter sempre o ritmo e pegar a mão do carro. Assim, consegui reduzir, sem precisar mexer nos ajustes dos carros, uma média de três a quatro segundos – dependendo da pista e do carro.

Ou seja: a telemetria foi fundamental para mim.

Quem é o Eduardo Tomedi

Antes de partirmos para a entrevista, cabe apresentá-lo a ti. Não vou falar da nossa amizade, pois daria um livro. Vamos direto ao ponto: o engenheiro de dados Eduardo Tomedi.

Ele começou os estudos em 2019, com os cursos da LLCA Racing College. Algum tempo depois, estudou na Porsche Cup.

Isso mudou em 2021. Nesse ano, participou como engenheiro de dados do Campeonato Gaúcho de Super Turismo, auxiliando o piloto Junior Victorette e a equipe WCR Team. Como a equipe também tinha um Audi RS3 TCR, trabalhou com Rafael Iserhard, Roger Sandoval e Pierre Ventura – parceiros de Victorette na empreitada.

Já neste 2022, aproveitou para ampliar os estudos. Isso o levou ao papel de estrategista da Equipe Brazauto no mesmo certame. Ainda em 2022, fez o treino da Bruna Tomaselli com um Fórmula 3 da PropCar Racing, no Velopark. Bruna foi pilota da W Series nessa temporada.

Para 2023, Tomedi já está com a agenda aberta. Então, corre para conversar com ele.

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Entrevista

De maneira geral, o que é a telemetria no automobilismo?

Eduardo Tomedi – Primeiramente, é importante explicar a definição do conceito.

Só podemos utilizar a palavra telemetria quando o veículo possui transmissão direta dos dados para o box. Isso é o que acontece em grandes categorias como a Fórmula 1, WEC, etc.

Fora isso, devemos chamar de Aquisição de Dados, na qual os dados são armazenados na ECU para serem coletados quando o veículo estiver nos boxes. 

Entendendo esta diferença, podemos definir Aquisição de Dados ou Telemetria como a ferramenta que uma equipe possui para verificar o funcionamento geral do carro e como este responde aos comandos do piloto.

Qual a diferença da telemetria do automobilismo real para o virtual?

Tomedi – A principal diferença é que, no virtual, os carros possuem todos os sensores possíveis disponíveis, como sensores de altura, de curso de suspensão, de temperatura, pressão de pneus.

Já no automobilismo real, nem sempre os carros terão os sensores disponíveis. Às vezes, é por regulamento, onde a categoria impede que certos sensores sejam utilizados. Em outros casos, por custo, pois instrumentar o carro não é nada barato.

Fora esta questão dos sensores, a análise feita em cima dos dados coletados é a mesma. Inclusive, o automobilismo virtual é muito útil ao engenheiro de pista para que ele siga aplicando conhecimento e testando teorias.

Como o piloto virtual pode se beneficiar da telemetria?

Tomedi – Acredito que o principal ponto para um piloto virtual utilizar a análise de dados é a pilotagem. Analisando algumas voltas, o piloto passa a entender em qual setor da pista ele vai melhor e em qual ele pode melhorar.

Além disso, sobrepondo algumas voltas, ele conseguirá entender o que fez de diferente em cada uma delas. Assim, terá o conhecimento do que fez de melhor em cada uma e tentar aplicar. Tendo sucesso, ele vai conseguir a volta ideal ou até mesmo melhorar a marca teórica.

Se este piloto participa de uma equipe ou tem amigos treinando juntos, o ganho se torna exponencial, uma vez que, trocando informações e dados, o resultado é ainda melhor!

A abordagem de um deles em um determinado ponto da pista pode ser a chave para um melhor tempo de volta.

Eduardo: engenheiro de dados, piloto e coach
Além de Engenheiro de Dados, Tomedi também é piloto e coach (Foto: Acervo Pessoal)

O que é melhor para o piloto: analisar a telemetria por si ou contar com alguém para isso?

Piloto de corridas, por natureza tem um ego enorme e dificilmente cede sobre qualquer ponto. Então, ele sempre vai ter uma “desculpa” ou um argumento, não sustentado pelos dados recolhidos, para qualquer situação.

Se a pessoa não tem clareza sobre isso e humildade para admitir para si próprio o seu erro , ela não vai conseguir se autocriticar, portanto, não terá uma análise efetiva. Nestes casos, acredito que ter uma pessoa para fazer esse trabalho é fundamental. 

E um ponto importante: nada adianta ter um engenheiro de pista ao seu lado se o piloto não confiar naquilo que o engenheiro repassa. Nada adianta ter alguém que mais do que “apontar os erros” está literalmente mostrando o caminho a ser seguido para uma melhor performance, se o piloto não der ouvidos e não tentar nada diferente dentro do carro, seja real ou virtual.

Logicamente, que existem pilotos que conseguem trabalhar sozinhos e fazer a autocrítica, e fazem sua análise de forma muito precisa e com resultados. 

Para quem está começando no automobilismo virtual e quer fazer essas análises, como ele deveria começar?

Sem muita intimidade com os softwares de análise de dados, minha sugestão seria olhar primeiro para o tempo marcado em cada setor da pista.

Ao ir pra pista, o software grava as parciais de cada volta e a partir dela pode-se iniciar uma autoanálise com uma pergunta “simples”: “O que eu fiz de diferente neste setor onde fui 3 décimos mais rápido que na minha melhor volta?”

A pessoa terá que voltar para o replay, para entender o que está fazendo, seja no traçado, ou nos comandos que entrega ao carro (acelerador, volante e freio).

Com isso, pode voltar à pista para tentar replicar o que aprendeu vendo o próprio replay. E nem entramos nos dados de fato! 

Caso a pessoa queira se aprofundar no trabalho de análise, aí vai precisar de conhecimento de como interpretar os dados. Para isso, eu indicaria buscar um curso de análise de dados básico. Com ele, a pessoa aprenderá a interpretar as principais linhas (velocidade, acelerador, freio e volante) e conseguirá ter uma análise mais profunda do que está fazendo durante as voltas.

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Para a análise, deve ficar apenas nos dados ou deve comparar com vídeos das voltas?

Ambas! O vídeo é uma arma poderosa! Mesmo sem ter os dados em mãos, consegue-se bons resultados apenas olhando o vídeo, entendendo onde o piloto está colocando o carro na pista.

E aqui, novamente, se tiver outro piloto treinando junto, consegue comparar ambos e entender como cada um está se comportando na pista! Às vezes, o posicionamento do carro na abordagem de uma curva pode ser a chave para ganhar alguns décimos.

Quais programas ou serviços de telemetria indica para os pilotos?

Essa é uma pergunta difícil. Sei que existem alguns serviços no automobilismo virtual que fazem a análise de forma automática. Porém, nunca utilizei para saber se são bons suficientes quanto um humano. Mas, acredito que estes serviços entregam o básico.

Contudo, não consideram a parte psicológica, que, seja no virtual ou real, conta muito! Agora, se está buscando um serviço de engenheiro, existem vários que atuam nas duas modalidades. Então, nesse caso, eu me indico!

Sobre programas: tanto faz!

Existem vários softwares de análise de dados no mercado e eles são diferentes entre si em algumas funções. Porém, todos entregam os dados de forma parecida, ou seja, focar no dado é mais importante do que focar no software!

Como tu, Eduardo Tomedi, pode auxiliar os pilotos nesse sentido?

De diversas formas. Uma delas é como engenheiro de dados, fazendo a análise dos dados e vídeos. Outra possibilidade é como engenheiro de pista, auxiliando na montagem do setup do carro e também na estratégia de corrida.

Além disso, também posso desenvolver um trabalho de coaching aliado aos dados, para conseguir extrair mais performance do piloto durante o seu treino ou corrida. Esse trabalho é bastante facilitado pelo fato de eu também ser piloto, e isso me ajuda a entender a linguagem, que ele sente quando está sentindo em alguma determinada situação, etc.

E, para finalizar: quais os seus contatos?

Para um primeiro contato, podem me procurar diretamente no instagram @etm_dataengineering ou no e-mail: etm.dataeng@gmail.com 

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