Rubens Barrichello, o monstro das pistas brasileiras
Foram necessários 50 anos, seis meses e 18 dias para que Rubens Gonçalves Barrichello (ou, simplesmente, Rubens Barrichello) entrasse para a história da Stock Car Pro Series. Afinal, neste 11 de dezembro, Rubinho (como todos conhecemos) conquistou o bicampeonato da categoria. Ao mesmo tempo, se tornou o piloto mais velho a levantar a taça de campeão do campeonato.
Entretanto, o feito só teria a cara dele se houvesse alguns requintes de emoção. Apesar de chegar na etapa final, em Interlagos, líder do campeonato, a disputa estava apertada: 30 pontos separavam os quatro primeiros colocados, sendo que o vice-líder Gabriel Casagrande estava a apenas 8 de distância.
Para complementar, ainda tinham 56 pontos em jogo e os outros dois postulantes ao título, Daniel Serra e Matías Rossi também queriam fazer história. O primeiro, buscando o tetracampeonato e podendo, assim, superar o pai Chico (detentor de três títulos). Já o segundo, queria se tornar o primeiro estrangeiro a levantar o troféu.
Ou seja: a última etapa tinha todos os ingredientes para nos entregar uma nova versão da primeira vitória de Rubens Barrichello na Fórmula 1.
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Interlagos finalmente corresponde amor de Barrichello
Tanto na transmissão do SporTV quanto na entrevista do Rubão (pai do Rubinho) para a emissora, ficou clara que Interlagos ainda “devia” para Barrichello. Conforme lembrou Rafael Lopes, do blog Voando Baixo, Rubinho morava muito próximo do autódromo. Entretanto, como disse Rubão, o filho teve mais azar do que sorte durante os tempos de Fórmula 1.
Por exemplo, ele nunca venceu uma prova da categoria aqui. E os motivos eram os mais variados. Às vezes, os carros quebravam. Em outras ocasiões, era ele quem errava ou batia. Sem contar quando o problema era a equipe.
Aliás, não é de hoje que a Ferrari erra na Fórmula 1. Em 2003, um erro de cálculo deixou Rubens Barrichello sem combustível naquela que seria a primeira vitória de um brasileiro no Grande Prêmio do Brasil desde 1993.
Apesar de não ter conquistado a vitória, Rubinho conquistou o bicampeonato nessa pista. Conclusão: podemos dizer que, finalmente, Interlagos correspondeu ao amor de seu eterno apaixonado.
As duas versões de Rubinho
Podemos separar essa conquista em dois atos, com o piloto da Full Time Sports interpretando dois papeis. O primeiro, de uma pessoa conservadora. O segundo, de alguém que parecia ter tudo a perder.
E isso aconteceu por causa do resultado na primeira prova da última etapa. Isso porque cada etapa da Stock Car é composta por duas corridas.
Rubens Barrichello, o Conservador
Barrichello largou na quarta posição, atrás de Felipe Baptista, Rossi e Daniel Serra. Gabriel Casagrande surgia um pouco mais atrás, em oitavo. Com essa “segurança”, o agora bicampeão correu com o regulamento debaixo do braço.
Apesar de sofrer uma tentativa de ultrapassagem aqui e ali, ele praticamente comboiou os adversários. Mas, sempre a uma distância segura.
Se viu beneficiado quando Rossi teve um imbróglio com Denis Navarro no pitstop. Uma liberação insegura por parte da equipe fez o argentino bater no outro piloto. Com o choque, houve uma quebra no carro do argentino, que se viu obrigado a abandonar essa corrida – e, por consequência, a briga pelo caneco.
Dessa forma, ficou fácil para Barrichello seguir com a estratégia. Se categoria viu a primeira vitória de Felipe Baptista, também o bicampeão em terceiro, atrás de Daniel Serra.
Rubinho, o Afoito
Uma das propostas de se inverter o grid após o resultado da primeira prova é justamente dar emoção. Entretanto, a segunda corrida da etapa teve uma dose um tanto exagerada.
Como terminou em terceiro, Rubinho largou em oitavo no último desafio da temporada.
Tão logo foi dada a largada, a confusão surgiu logo no S do Senna. O piloto da Full Time Sports foi com muita sede ao pote, acabou rodando, e , tal qual um boliche, outros “pinos” foram derrubados. Entre eles, Casagrande e Serra.
O campeão de 2021 acabou saindo da pista e, quando voltou, atingiu o adversário direto ao título. Serra abandonou logo em seguida. Pouco tempo depois, Casagrande foi punido. Assim, o título caiu no colo de Barrichello.
Decisão polêmica
O Grande Prêmio de Abu Dhabi de 2021 ainda está presente na mente dos fãs de automobilismo e foi fácil fazer um paralelo entre a decisão de Michael Masi com a dos comissários da Stock Car. Em ambos os casos, as medidas foram controversas.
Isso fica claro ao ver que o toque entre Casagrande e Serra não foi intencional. Porém, como envolveu muito mais carros, os comissários decidiram excluir o campeão de 2021 da prova, em vez de optar por alguma outra possibilidade – como um Stop and Go na parada obrigatória.
Tudo isso aconteceu antes da metade da corrida, o que fez Barrichello praticamente passear na pista.
Digestão difícil
Tão logo a poeira baixou, Casagrande disparou contra a decisão. Entre as duras palavras, sobrou até um “Infelizmente, tem gente que tem mais poder do que eu” durante a entrevista para a Band, a emissora oficial da categoria na TV aberta.
A referência pode ser vinculada à informação veiculada pela SporTV, de que Serra e a equipe RC Eurofarma se dirigiam à direção de prova para fazer uma reclamação formal. Além da exclusão, Casagrande também levou seis pontos na carteira.
Só que a medida não foi bem digerida nem pela transmissão – pelo menos, na SporTV. Como disse Luciano Burti, ex-piloto da F1 e também da categoria, Rubens Barrichello tinha total condições de ser campeão na pista.
Afinal, mesmo com a confusão e retornando em 17º, Rubinho chegou em 11º na segunda prova (que foi vencida por Ricardo Mauricio, ironicamente companheiro de equipe de Daniel Serra).
Rubens Barrichello, o Brilhante
Independente de como foi, o bicampeonato de Barrichello mostra, mais uma vez, que estamos diante de um dos melhores pilotos do Brasil. Até porque ninguém fica 19 temporadas na Fórmula 1 à toa.
Por mais que, até hoje, ainda tenha gente resumindo sua carreira ao que fez na categoria máxima do automobilismo, não pelo conjunto da obra.
A essas pessoas, a gente dá aquela sambadinha na cara.