O fim da angústia para um campeão gaúcho de kart

Foto: Rafael Pierre
Atual campeão da categoria F4 195kg conseguiu reunir os recursos necessários para competir no Campeonato Gaúcho de Kart que, nesta temporada, será realizado em etapa única
Os meses de angústia acabaram para Guilherme Corso. Atual campeão Gaúcho de kart na categoria F4 195kg – substituindo a F4 200kg, ativa até a temporada passada – passou primeiro trimestre do ano, praticamente, fazendo as contas.
“(O Campeonato) Gaúcho é 100% que vou competir. Já o Sul-Brasileiro, são 99,9% – se não houver imprevisto”, conta o kartista, com alívio. Isso porque, assim que 2024 acabou, não sabia se conseguiria ir às pistas nesta temporada – o certame estadual ocorre no dia 4 de maio, em etapa única, enquanto o da Região Sul do Brasil está previsto para junho.
Nascido e residente em Caxias do Sul, na Serra gaúcha, este engenheiro que atua como Analista de Processos de uma das maiores fabricantes de ônibus do país dizia o seguinte no início do ano: “Hoje, existem boas chances de disputar o Sul-Brasileiro e menores chances de competir no Gaúcho.”
Os custos da ‘brincadeira’
Como se sabe, o automobilismo, como um todo, exige um grande investimento. E, na época das dúvidas, Corso precisava levantar recursos para se manter nas pistas, uma vez que usou todas as economias para competir em 2024 – seu ano de estreia no kartismo profissional.
“Todo mundo que vem conversar comigo e pergunta quais são os custos da brincadeira não acredita nos valores”, confessa. Ainda mais em um esporte que muitos dos praticantes – principalmente os que já passaram dos 30 anos – o usam como um hobby.
Mas, quis o destino que o campeão reinante, vencedor de seu primeiro título no kart profissional no ano de estreia na modalidade, confirmasse sua presença no Kartódromo Dante Roveda, em Vacaria, palco do certame estadual.
Agora, Corso busca inspiração na temporada 2024, quando resiliência e determinação o levaram de uma possível frustração com os resultados para o lugar mais alto do pódio.
A temporada de 2024
Fazia calor na tarde daquele longínquo 22 de setembro de 2024, no Circuito Techspeed Serra, em Farroupilha, na Serra Gaúcha.
Ele vencera a última corrida do fim de semana, e o seu amigo Jean Picolotto – também kartista e colega de equipe na Mittag Racing – fazia os cálculos de pontuação e de descartes para saber o resultado final. Corso, ainda de macacão e com o suor escorrendo seu rosto, recebeu a notícia. “É o campeão”.
O piloto não acreditou, até que Fernando Engelles, adversário de categoria, confirmou. Sua pilotagem limpa na etapa decisiva aliada ao azar de Vitor Schunck, seu rival na luta pelo título – abandonou as duas corridas do dia – o levaram ao topo do pódio.
A descrença tinha um motivo. No dia anterior, durante a terceira rodada (as duas últimas etapas do Gaúcho de Kart foram no mesmo fim de semana, devido às enchentes de maio no Estado), teve resultados ruins. Porém, o conhecimento de todos os pontos do traçado farroupilhense fizeram a diferença.
“Foi uma excelente temporada de estreia, mas isso não quer dizer que foi fácil”, analisa Corso. Ao longo do ano, encontrou muitos desafios, que não foram simples de enfrentar, além de alguns contratempos. “No fim, encerramos a temporada com ‘chave de ouro’ com o resultado que sonhávamos, mas que sabia que era bastante improvável de acontecer”, complementa.
Improvável, mas não impossível
Afinal, para superar as adversidades, teve muito aprendizado, trabalho, dedicação, crescimento (como piloto e como pessoa) e a experiência de ter competido pela equipe de um dos mais renomados preparadores de motor de kart do Brasil, Cesar Mittag – comandante da equipe Mittag Racing.
Três principais desafios
O Campeonato Gaúcho de Kart foi composto por quatro etapas. A primeira, foi no Kartódromo Dante Roveda, em Vacaria. São 115 quilômetros de distância para Caxias do Sul. A segunda, no Kartódromo de Guaporé que, apesar de também ser na Serra, está a cerca de 120 quilômetros.
A terceira era prevista para o Kartódromo de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, exigia um deslocamento de quase 140, com a última, em Farroupilha, sendo a mais próxima: 22 quilômetros.
Colocando na ponta do lápis, a conta assusta. O deslocamento, com os custos de gasolina, estadia, alimentação, fora os da competição em si (equipe, inscrição, pneus, aluguel de motor, possíveis acidentes) torna o setor financeiro o principal desafio. Conforme Corso, foi necessário fazer um “malabarismo” para viabilizar a participação em todas as etapas.
Aqui, vale ressaltar: a rodada de Venâncio Aires foi transferida para Farroupilha, diminuindo um pouco dos gastos.

“O segundo (desafio) foi a preparação psicológica para saber administrar pressões internas e externas que sempre estão presentes, além de saber lidar com as frustrações que são muito frequentes”, continua.
Por fim, a preparação física, já que sentiu muita diferença entre este tipo de kart em comparação com os de aluguel. Mesmo com tudo isso, estava confiante para a temporada. Só que, claro, algumas coisas alheias ao planejamento sempre podem acontecer.
As surpresas da primeira temporada
A pergunta foi direta: “O que mais te surpreendeu nesta estreia no kartismo próprio?” A resposta seguiu no mesmo ritmo. “De certa forma, tudo”, diz sem nem pestanejar.
“O ambiente é único e existem muitas histórias de bastidor que tornam a experiência incrível. Todo mundo tem uma motivação para estar ali, fazendo o melhor que consegue com aquilo que tem”, adiciona.
Quem acompanhou as provas de perto, percebeu. Pilotos jovens com karts e motores preparados pelos pais; competidores que têm a sua “euquipe” e fazem de tudo no fim de semana; aqueles que encontram uma forma de ajudar os que mais precisam; famílias reúnem parentes e amigos para conseguir a verba necessária para estar na pista.
Mas, se pudesse escolher um ponto principal, Corso fica na dúvida. “Talvez o que mais tenha me chamado a atenção é como as coisas podem mudar rapidamente”, filosofa. Um exemplo: a alteração de algo positivo para o negativo (e vice-versa) de uma hora para outra – tipo uma etapa ruim num dia e uma maravilhosa no outro.
Também encontra outras peculiaridades que só uma competição de kart próprio pode proporcionar, como a experiência de uma equipe para auxiliar na preparação para treinos e corridas. “A quantidade de ajustes possíveis, a diferença de pequenos detalhes podem fazer em um mundo muito complexo… Se tu queres ser competitivo, tens de estar atento a tudo”, observa.
E como foi a recepção dos adversários? Surpreendente, de maneira positiva. “Apesar de todos querendo ganhar e sendo competitivos, vi muito respeito.”
Um sonho realizado em parceria
Apesar da vontade de correr de kart próprio partir de Corso, ele é mais um que comprova que, no esporte a motor, nada se faz sozinho. Teve o apoio de muitas pessoas. Da equipe Mittag Racing, as dicas (e puxadas de orelha) de Cesar Mittag, e dos serviços de Edson (Chico) e Djonatan (ET).
No paddock, estavam Dalila Fortes, Alex Panazzolo, Jean Picolotto, Sandra Gobatto, além de Julio Pires, Theo e Tiago Zingalli.
“Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida”, rememora, para logo concluir: “Hoje, entendo muito melhor porque os grandes campeões desse esporte se tornam incrivelmente maduros muito jovens. É um esporte muito completo, que requer diversos tipos de preparos e te coloca à prova a cada curva.”
Curvas, essas, que muitos verão Guilherme Corso contornar neste 2025.