Carol Nunes: a representatividade trans no automobilismo nacional

Carol Nunes é empreendedora, pilota e uma inspiração para toda uma comunidade que luta diariamente pelo reconhecimento de seus direitos

Carol Nunes - Vanderley Soares Zóião
Carol Nunes abriu portas para a comunidade trans no automobilismo (Foto: Vanderley Soares, Zóião)

“Ainda não tenho tanta dimensão da minha importância.” É assim que Carol Nunes, 32 anos, reflete sobre sua trajetória no automobilismo nacional. Conhecida Brasil afora pela transformação que fez em seu Ford Fusion, Carol começa a se tornar algo que, talvez, nunca tenha imaginado: a representatividade das pessoas transexuais no automobilismo – um esporte, como se sabe, composto majoritariamente por homens.

“Quanto mais recebo relatos de pessoas dizendo que se inspiram em mim e me têm como referência para a vida delas, e que estou abrindo as portas a elas, inclusive no automobilismo, isso me dá um pouco de noção do quanto tenho sido importante pra essa comunidade”, revela esta paulista, nascida e criada em São Paulo, e apoiada por Drax Sports, Gedson Castro Comunicações, Fix Fibra, RS Performance, Winner Eletric e Oficina do Quintano.

Abrir este espaço a Carol Nunes é mais do que divulgar sua trajetória como empreendedora do ramo de splitters e acessórios automotivos ou como pilota (o que, por si só, já é um grande feito). Trazê-la nesta entrevista é mostrar que o esporte a motor também pertence à comunidade LGBTQIA+, não apenas como fãs, mas como protagonista.

Entrevista com Carol Nunes

Push to Cast: Quem é a Carol Nunes? Conta um pouco da sua história para nós.

Carol Nunes: Paulista, nasci e cresci em São Paulo. Me mudei para o interior do Estado aos 8 anos, mas voltei para a capital com 13 anos. Sempre apaixonada por carros, colecionáveis, autoramas, de controle remoto, etc, e também apaixonada por video games, cultura nerd e, principalmente, moda. Quase me formei em moda, mas acabei não terminando a faculdade.

Aos 23 anos, me tornei empreendedora no ramo de colecionáveis nerds, com uma empresa de fabricação própria. Desde então, sigo no empreendedorismo, mas o objetivo é viver apenas do automobilismo.

PTC: Como surgiu essa paixão pelo automobilismo?

Carol: Sempre fui apaixonada por automobilismo desde criança, mas por turismo. Nunca fui fã de fórmulas. A paixão nasceu por conta própria, já que ninguém na família tinha a mesma paixão.

Na adolescência, acompanhava Nascar ao vivo religiosamente todo domingo, o mesmo com DTM (Alemanha), V8 Super Cars (Austrália) e outras categorias. Aos 17 anos já ia sozinha para o autódromo assistir Itaipava GT Brasil, Mercedes-Benz Challenge e outras categorias.

Ford Fusion da Carol Nunes - Divulgação
Ford Fusion modificado de Carol Nunes é sensação Brasil afora (Foto: Divulgação)

PTC: E essa história do Fusion? Como que conseguiste montar o teu, para competição, mesmo sem ter formação em engenharia?

Carol: Sempre fui muito autodidata e com bastante facilidade para trabalhos manuais. Sempre gostei de criar e personalizar minhas próprias coisas.

Com 10 anos, já personalizava e modificava meus próprios carros de controle remoto, desde colocar iluminação nos carrinhos usando lâmpadas de pisca-pisca, até modificando com peças de outros carrinhos que haviam quebrado.

Quando tive meu próprio carro, comecei a modificar e fabricar muitas das peças na tentativa e erro, testes, etc. Mas também sempre tive um grande conhecimento sobre como funciona um carro de corrida e cada peça.

PTC: Quem te acompanha nas redes sociais, vê muito bem a tua luta por mais inclusão da comunidade LGBTQIA+ no automobilismo. Desde o teu início no esporte até agora, viu alguma evolução?

Carol: Vi sim bastante evolução e, quando paro para pensar, essa evolução no automobilismo começou comigo. Eu trouxe a visibilidade e a discussão sobre o assunto, tomando muita pedrada, claro, mas ainda sim trazendo muita evolução. Hoje temos engenheiras trans, social media, etc.

PTC: Cada vez mais, a gente vê que uma maior representatividade da comunidade LGBTQIA+ nos esportes, em muitas modalidades. Já tem a dimensão da sua representatividade para as pessoas trans no esporte, especialmente no automobilismo?

Carol: Ainda não tenho tanta dimensão da minha importância, mas quanto mais recebo relatos de pessoas dizendo que se inspiram em mim e me têm como referência para a vida delas, e que estou abrindo as portas a elas, inclusive no automobilismo, isso me dá um pouco de noção do quanto tenho sido importante pra essa comunidade.

Carol Nunes e Nascar Brasil - Vanderley Soares Zóião
Pilota e empreendedora sonha em seguir carreira no automobilismo de competição (Vanderley Soares, Zóião)

PTC: Outra parte importante da tua história, que compartilha nas redes sociais, é a do apoio da Juliana, tua namorada. Há quanto tempo vocês estão juntos e qual a importância dela nessa tua trajetória?

Carol: A Juliana é incrível. Estamos juntas há 2 anos e meio e ela realmente me apoia muito. É meu alicerce e não teria chegado até aqui sem o apoio dela. Tenho sacrificado muito de mim e tudo que eu tenho, às vezes até mesmo meu relacionamento, para poder seguir o meu sonho, e sou muito grata por ela ter me apoiado até aqui.

PTC: Quais os teus próximos passos no automobilismo (claro, aqueles que tu podes contar)?

Carol: Sigo no objetivo de voltar a competir em uma grande categoria e, a partir daí, escalar no automobilismo e continuar seguindo uma carreira.

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