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Nelsinho cita Fittipaldi e quer desbravar Nascar com título em 2012

3 mai 2012 - 05h00
(atualizado às 08h23)
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O brasileiro Emerson Fittipaldi, pioneiro na Fórmula 1 nos anos 1970, abriu caminho para compatriotas como Ayrton Senna e Nelson Piquet. Filho homônimo do tricampeão do mundo, Nelsinho Piquet cita o veterano ex-piloto ao falar sobre a decisão de investir na Nascar depois de passar pela principal categoria do automobilismo e sonha com a possibilidade de conquistar o inédito título da Truck Series em 2012.

Nelsinho Piquet deixou a Fórmula 1 após escândalo envolvendo seu nome, em 2008
Nelsinho Piquet deixou a Fórmula 1 após escândalo envolvendo seu nome, em 2008
Foto: Divulgação

"Realmente, me encantei com o estilo das disputas da Nascar e decidi ser o primeiro brasileiro a abrir esse caminho nas pistas para nossos pilotos, assim como o Emerson Fittipaldi fez na Fórmula 1 e na Fórmula Indy", disse Nelsinho em entrevista exclusiva à GE.Net. Nos Estados Unidos, ele convive com Pietro Fittipaldi, 15 anos, neto de Emerson e atual campeão da Limited Late Models, uma das várias categorias da Nascar.

Quarto colocado na última etapa da Truck Series, Nelsinho ocupa o quinto lugar do campeonato, seu recorde na categoria, depois das primeiras quatro corridas. Nove das próximas 18 provas do calendário serão realizadas em circuitos de 1,5 milha, os chamados "ovais intermediários", nos quais o brasileiro alcançou seus resultados mais expressivos.

Além de disputar o segmento de picapes, equivalente a terceira divisão da Nascar, Nelsinho planeja fazer algumas provas na Nationwide, último degrau antes da Sprint Cup, e na K&N Pro Series, evento regional em que venceu pela primeira vez. Após deixar a Fórmula 1 de forma conturbada em 2009, o brasileiro garante não sentir falta do glamour da categoria e se diz "encantando" com o estilo de vida nos Estados Unidos.

GE.Net - Você deixou a Fórmula 1 em 2009 e, no ano seguinte, teve os primeiros contatos com a Nascar. Como foi a temporada de 2010 para você?

Nelsinho -

Foi um ano de transição. Fui convidado para ter um contato inicial com a Nascar e disputei algumas corridas para conhecer a categoria e avaliar se era uma alternativa viável para a minha carreira. Não foi exatamente uma temporada competitiva. Andei em equipes e categorias diferentes, com o objetivo de ter as primeiras impressões desse novo mundo no automobilismo para mim. Mesmo assim, deu para fazer uma ou outra apresentação melhor, como a corrida pela Nationwide Series em Watkings Glen, quando tive uma disputa muito bacana com o Jacques Villeneuve (campeão mundial na Fórmula 1 em 1997) pelo sétimo lugar e acabei levando a melhor. O que valeu de 2010 foi que eu realmente me encantei com o estilo das disputas da Nascar e decidi ser o primeiro brasileiro a abrir esse caminho nas pistas para nossos pilotos, assim como o Emerson Fittipaldi fez na Fórmula 1 e na Fórmula Indy.

GE.Net - Como exatamente você escolheu a categoria Truck Series da Nascar?

Nelsinho -

Minha chegada na categoria aconteceu naturalmente, quando eu decidi dar prosseguimento à minha carreira nos Estados Unidos depois de ter passado pela Fórmula 1. Eu não me interessava tanto pela Indy, porque acho a categoria um pouco perigosa e queria fazer algo novo para brasileiros, que era a Nascar. Para entrar na Nascar, não tinha caminho melhor que a Truck. Veja o caso do (Juan Pablo) Montoya: ele já havia competido no automobilismo americano e sabia andar muito bem de oval. Mas saiu da Fórmula 1 direto para a Sprint Cup e sofreu para se desenvolver como piloto da Nascar. Minha escolha foi fazer uma carreira estruturada na Nascar, com respeito a todas as etapas do desenvolvimento.

GE.Net - Depois dos contatos iniciais com a categoria em 2010, você disputou a primeira temporada completa em 2011...

Nelsinho -

Sim, foi quando corri a temporada completa da Truck Series e uma corrida da Nationwide Series. O objetivo era brigar pelo top 10 no campeonato e pelo prêmio de rookie of the year (melhor estreante do ano). Terminei a temporada em 10º e fui vice-campeão na disputa do melhor estreante por uma diferença mínima para o piloto que ganhou.

GE.Net - Com a experiência de já ter disputado uma temporada completa na categoria, qual é a meta para 2012?

Nelsinho -

Normalmente, ao longo de toda minha carreira sempre tracei planos de dois em dois anos em cada categoria. Foi assim na Fórmula 3 (no Brasil e na Europa) e na GP2. A primeira temporada é para conhecer a categoria, aprender as pistas e buscar experiência, acumulando quilometragem para brigar pelo título no ano seguinte. É exatamente esse plano que estamos tentando repetir nos Estados Unidos neste ano. Por enquanto, está funcionando. Agora sou mais experiente e em 2012 já chego aos autódromos com uma noção bem mais clara do que vou precisar fazer em cada corrida. A melhora deste ano é fruto da minha evolução natural nos ovais, dentro do planejamento de carreira que traçamos no final de 2010.

GE.Net - O começo do campeonato vem sendo positivo. Depois de quatro corridas (três top 10 e um quarto lugar), você ocupa a quinta colocação. A performance está dentro do esperado?

Nelsinho -

Estou vivendo uma fase muito boa. Recentemente, tive também minha primeira vitória na Nascar, em uma categoria de desenvolvimento de pilotos chamada K&N Pro Series East, que é a última categoria antes das séries nacionais da Nascar. Sem dúvida, minha meta neste ano é disputar vitórias na Truck e penso em chegar à segunda metade da temporada diretamente envolvido na briga pelo título. Parte do nosso planejamento de dois em dois anos foi alterada na virada de 2011 para 2012, com o fim da equipe em que eu corri no ano passado, a Kevin Harvick Inc. Essa ideia de aprender em um ano e lutar pelo campeonato no próximo até hoje sempre funcionou comigo dentro de um mesmo time. Mas felizmente o que eu havia feito na pista no ano de estreia despertou interesse de uma equipe de ponta. Então, neste ano, mesmo tendo mudado para a Turner, estou muito confiante.

GE.Net - Você citou a sua primeira vitória na Nascar, na K&N Pro Series, em Bristol. Sem contar competições em parceria com outros pilotos, é sua primeira vitória desde agosto de 2006, quando venceu pela GP2, na Turquia. Como foi esse triunfo depois de tanto tempo?

Nelsinho -

Foi minha primeira vitória dentro de um carro fechado, a primeira em oval e a primeira no automobilismo americano. Cheguei ao victory lane e nem sabia direito o que era para fazer, qual era o ritual para o piloto vencedor. Seja no kart, na Fórmula 3, na GP2, na Fórmula 1 ou na Nascar, todo piloto entra nas corridas com o objetivo de vencer. Não existe satisfação maior para um piloto que acabar a corrida e ver o nome dele ao lado do número 1. A alegria de vencer é única, em todas as categorias. O que teve de diferente naquela corrida em Bristol foi viver novamente aquela alegria depois de algum tempo, ao mesmo tempo sabendo que consegui ser o melhor novamente, mesmo em uma dinâmica de corrida tão diferente em relação às categorias em que eu me desenvolvi.

GE.Net - Para um piloto criado em carros de fórmula e circuitos europeus, como é participar de uma categoria de turismo norte-americana apenas com pistas ovais?

Nelsinho -

Não é uma transição fácil no que diz respeito à pilotagem e, para quem vê de longe e sem ter maiores informações, os ovais podem mesmo parecer todos iguais. Mas, uma vez lá, o piloto começa a entender os vários estilos de pista oval e as particularidades de cada circuito. Antes de competir nos Estados Unidos, minha carreira tinha sido totalmente voltada para a Europa. Minha mãe é europeia e eu vivi lá durante anos, meu pai viajava muito para a Europa e nós nunca tivemos muito contato com os Estados Unidos. Foi só a partir de 2010 que eu realmente comecei a conhecer melhor a realidade da vida nos Estados Unidos, e tenho ficado encantado com a dinâmica das coisas aqui.

GE.Net - A Nascar não tem o mesmo glamour da Fórmula 1...

Nelsinho -

No automobilismo, tem gente que gosta de glamour, mas este nunca foi o meu caso. O que me motiva é a oportunidade de correr pela vitória, de competir em um carro ou kart. Não me importa tanto se isso é em Le Mans, Mônaco, Daytona, Las Vegas ou no Kartódromo de Brasília. Se tem quatro rodas e um motor, eu vou querer correr, e é isso que me move.

GE.Net - Você encara as corridas que vem fazendo na K&N Pro Series como uma espécie de treino?

Nelsinho -

A corrida em Bristol fez parte de um projeto meu de intensificar as atividades em pista curta. No ano passado, consegui uma boa adaptação às chamadas pistas "intermediárias", que são de 1,5 milha. Mas sofri bastante nas pistas menores, que são a base do desenvolvimento dos pilotos da Nascar. Então, acertei com a equipe que, entre a corrida de abertura, no final de fevereiro, e a segunda etapa, no final de março, faríamos a maior quantidade de testes possíveis em pista curta. Aí, surgiu o convite para correr de K&N Pro Series e aceitei dentro da mesma ideia, atraído também pelo fato de competir por uma equipe (X Team Racing) que tem um sócio brasileiro (Geraldo Rodrigues) e outro piloto brasileiro, meu amigo Carlos Iaconelli. No contrato, abri mão de qualquer premiação em dinheiro. A única contrapartida que eu tinha era correr uma nova etapa pelo time se ganhasse a prova. Bem, como eu ganhei, agora vou querer correr mais nesta categoria.

GE.Net - Além da Truck Series e da K&N Pro Series, também estão previstas duas corridas na Nationwide, os mistos de Elkhart Lane e Watkins Glen. A participação nessa categoria pode ser considerara como um indicativo de suas atividades nos próximos anos?

Nelsinho -

A Nationwide se apresenta como a evolução natural depois da Truck Series dentro do plano de carreira da Nascar. Os carros dessa categoria têm a mesma potência das picapes, mas bem menos pressão aerodinâmica, logo são bem mais ariscos. As corridas são mais longas e o campeonato tem mais provas. Sei que no meu trajeto rumo à categoria principal há uma escala praticamente obrigatória na Nationwide. Então, resumindo: a K&N Pro Series é processo de adaptação e a Nationwide indica a atividade no futuro.

GE.Net - A Danica Patrick foi apadrinhada pelo tricampeão Tony Stewart em seu ingresso na Nascar e não é incomum ver casos semelhantes de pilotos famosos dando apoio a promessas. Você tem algum suporte neste sentido?

Nelsinho -

No meu primeiro ano, o dono da equipe em que eu corria era o Kevin Harvick, piloto consagrado da Sprint Cup. Não era o único caso de piloto da categoria principal com trucks na minha divisão. Este ponto que você aborda é uma das diferenças principais entre a Nascar e o automobilismo europeu. Aqui, o contato e a troca de informações entre os pilotos é muito maior. Por exemplo: depois que eu ganhei a corrida de K&N Pro Series em Bristol, até o Jimmie Johnson (piloto da Sprint Cup) veio me dar os parabéns pelo Twitter. Alguém imagina, por exemplo, o Schumacher ou o Vettel acompanhando uma corrida de GP3 e parabenizando o vencedor? Tenho contato pessoal com o Kurt Busch (piloto da Sprint Cup) e ele às vezes me dá umas dicas. E o Kasey Kahne (piloto da Sprint Cup) é contratado pelo meu time para correr algumas provas de Nationwide ao longo da temporada.

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