Kartismo Gaúcho: Os desafios e o futuro da base do automobilismo

Os custos para realizar suas provas

Citadino de Vacaria - Idalicio Umpierre
AAVA, em Vacaria, é uma das entidades locais que promovem seus Citadinos ao longo do ano (Foto: Idalicio Umpierre)

O kartismo tem pilotos e pilotas de todas as idades. Existem os jovens, que enxergam nele uma forma de mostrar seu potencial e, quem sabe um dia, chegar às maiores categorias do automobilismo nacional, quiçá mundial. Ao mesmo tempo, a modalidade abre espaço para quem vê nas disputas um hobby, uma forma de se divertir ou de se esquecer dos problemas que a vida adulta traz.

Independente de quem se fala, uma coisa é importante: fortalecer o kartismo é um desafio desafio e tanto. E existem muitos, mas a reportagem elencará apenas alguns para não tomar muito do seu tempo.

O primeiro deles é a própria modalidade. São diversas competições espalhadas pelo Brasil, muitas com conflitos de datas. O planejamento da temporada deve ser muito bem-feito, até por causa do orçamento limitado de muitos pilotos – principalmente os que dependem exclusivamente do paitrocínio.

Outra situação que complica é o calendário. No caso do Rio Grande do Sul, a Federação Gaúcha de Automobilismo (FGA) só bateu o martelo da temporada 2024 no início deste ano. Isso dificulta quem busca o apoio de empresas, já que muitas delas definem seus investimentos nos últimos meses do ano anterior.

Também devemos levar as datas para inscrição nos projetos de Lei de Incentivo ao Esporte (LIE). Assim como o planejamento da iniciativa privada, o Poder Público também atua de forma antecipada. Assim, quem depende desse tipo de financiamento, muitas vezes, só conseguirá competir no meio da temporada.

Este fato foi mudado nesta temporada. A FGA comunicou, no fim de outubro, o calendário das competições federadas. Além de atender ao planejamento dos pilotos, também levou em conta um pedido de muito tempo: que o Campeonato Gaúcho de Kart seja em uma etapa. “Foi um pedido dos pilotos, que também competem em outras competições”, declarou Jhony Bonilla, diretor do Departamento de Kart da FGA.

O último obstáculo, e o mais importante, são os custos dos promotores. Como confidenciou um ex-dirigente: “Os clubes costumam ter prejuízo nessas etapas”. Arthur Mantese, presidente do Guaporé Kart Clube, confirma. “Hoje, infelizmente, as provas não geram lucro para o kartódromo. O que mantém o funcionamento são as taxas de treino e mensalidades dos sócios.”

Custos e mais custos

Mas, como isso acontece? Por um lado, vem a natureza do esporte a motor.

O kartismo é um esporte caro. Só para se ter uma ideia, um piloto da categoria F4 Júnior desembolsou, nesta temporada, pelo menos R$ 450,00 de inscrição antecipada e R$ 550,00 de aluguel de motor por etapa. Caso o registro fosse feito no dia, os custos só com essas duas exigências sobe para R$ 1.250,00. Ou seja: “O kart tem um custo muito alto e, hoje, é um esporte elitizado”, ressalta Bonilla.

Além disso, existem a compra obrigatória de um jogo novo por prova, o combustível, o deslocamento, a estadia, e por aí vai. Nesse sentido, o dirigente da FGA compara a situação atual com a de quando ele mesmo era piloto. “Naquela época, um kart novo custava em torno de 4 mil dólares. Hoje, o valor está muito maior”, ressalta ele, que usa a moeda americana por ser uma das mais usadas no mercado mundial.

Na soma de tudo, se entende porque as etapas desse ano tiveram poucos inscritos, ainda mais depois das enchentes que assolaram o Estado em maio, impedindo que o Venâncio Aires Kart Clube (VKC) realizasse a terceira etapa do Campeonato Gaúcho deste ano. Muitos não tiveram dinheiro suficiente para bancar suas corridas.

As cobranças da FGA

Entretanto, outro fator contribui com esse prejuízo – ou, no máximo, empate de despesas e receitas: os encargos da Federação. Os dirigentes explicam como que são feitos os cálculos.

Com 92 sócios, sendo 53 federados, a Associação de Automobilismo de Vacaria (AAVA) precisa fazer uma boa promoção de suas competições. “Para poder cobrir as despesas de uma etapa do nosso Citadino, é preciso, no mínimo, termos 45 pilotos inscritos. Com menos, é prejuízo na certa”, ressalta Eduardo Giuriolo Rech, presidente entidade vacariense. Vale lembrar que o Campeonato Citadino de Vacaria, composto por cinco etapas, é federado.

Mas, quais são esses custos? Rech ajuda a entender: Comissários da FGA, Diretor de Prova, cronometragem, manutenção, bandeirinhas, limpeza do kartódromo, equipe de transmissão – que ajuda a divulgar os patrocinadores – e a alimentação de todos eles, a estadia de alguns, os troféus e outras situações que aparecem no decorrer do evento.

Assim como a AAVA, o Venâncio Aires Kart Clube (VKC) também se mantém com a anuidade dos sócios, o aluguel da pista para treinos aos não sócios – quando se cobra uma taxa por kart – e arrecadação de patrocínio. “Como somos dez empresários que não visam o lucro pessoal, muitas vezes o patrocínio vem de nossas empresas”, diz Jonathan Machado, o Jony, presidente do VKC. Todos os 35 associados são filiados.

Jony, assim como Mantese e Rech, vê o trabalho da FGA como importante para o esporte, mas diz que “não é feito da forma que gostaríamos”. E por quê? “Hoje, em uma prova federada, 50% dos custos são com encargos da federação”, ressalta.

Depois, entre 35% e 45% são os custos para realizar a prova, sobrando muito pouco para o clube. “Ou, como já aconteceu, empatarmos ou ficarmos em prejuízo”, desabafa. “Talvez, este seja o motivo maior de não se realizar mais eventos no geral do kartismo no Sul, pois se torna muito pesado.”

Sobre isso, Bonilla é direto. Todos os promotores – independente da modalidade – recebem o Caderno de Encargos da FGA. O documento detalha tudo o que é necessário para que a Federação homologue a prova ou o certame. Entre os itens, estão as equipes técnica e de segurança, ambulância, banheiros, comissários, entre outros.

Porém, ressalta que existem formas dos clubes gerarem receita durante a realização das corridas. “O bar ou restaurante, os treinos e os patrocínios, por exemplo, tudo fica com o clube de kart”, explica Bonilla.

E agora, como fica? Presidentes de clubes e o dirigente da FGA fazem propostas para que o kartismo gaúcho retome a sua importância no cenário nacional. Avance para a próxima e última página e saiba o que pensa cada um.

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