Kartismo Gaúcho: Os desafios e o futuro da base do automobilismo
A importância dos clubes no desenvolvimento da modalidade
Para falar do desenvolvimento do kartismo gaúcho, não se pode olhar apenas para o presente e o futuro. É necessário voltar ao passado, às vezes muitas décadas, para entender como chegamos até aqui. Afinal, toda construção precisa de uma base sólida para se manter, e ela só ocorre com muita paixão, força de vontade e, claro, recursos – humanos e financeiros.
Um desses exemplos é a Associação de Automobilismo de Vacaria (AAVA). Fundada em 1982, sua história começou um ano antes. “Em 1981, dois pilotos de kart de Vacaria que participavam de um campeonato regional de kart em Passo Fundo (região Norte do Estado) tiveram a ideia de fazer uma prova de na cidade”, conta Eduardo Giuriolo Rech, atual presidente da associação.
Como o município não tinha um kartódromo, o jeito foi usar a criatividade. Com o apoio da administração pública e da Brigada Militar (como é chamada a Polícia Militar no Rio Grande do Sul), foi montado um circuito de rua. “A prova foi um sucesso, trazendo pilotos de Passo Fundo, Erechim, Caxias do Sul e região”, complementa Rech. Dessa forma, ficou “fácil” criar uma associação de kartistas, que teve Claudionor de Lima Dian como seu primeiro presidente.
Duzentos e quarenta e um quilômetros de distância dali está situada a cidade de Venâncio Aires, na região do Vale do Rio Pardo. Lá, entusiastas da modalidade passaram por uma situação semelhante. Os pilotos tinham de se deslocar por cera de uma hora até Paverama, no Vale do Taquari, para sentir a emoção das disputas em alta velocidade.
“Na ocasião, era período de eleições. Então, juntamos o útil ao agradável”, relembra o presidente do Venâncio Aires Kart Clube (VKC), Jonathan Machado, popularmente chamado de Jony. “Em visita ao então prefeito Airton Artus, foi manifestado o desejo da pista”, continua. Para aumentar as chances de ter um kartódromo, o grupo mostrou como a modalidade poderia contribuir com a economia local.
Foi assim que, há 16 anos, o Parque do Chimarrão se tornou também a casa da velocidade em Venâncio Aires.
Um caminho diferente
Em outra região gaúcha, mais precisamente na Serra, está situado o município de Guaporé. Ali, ao contrário de Vacaria e Venâncio Aires, kartistas dificilmente participavam de competições em municípios vizinhos. O foco era aproveitar a existência do autódromo local para improvisar treinos durante suas confraternizações.
“Montávamos um pequeno traçado com pneus e, assim, surgiram os primeiros treinos de kart”, rememora Arthur Mantese, atual presidente do Guaporé Kart Clube. Assim, se deu a primeira acelerada para a criação do kartódromo local “e dar início ao esporte em nossa cidade, que já era tradicional no esporte a motor devido ao autódromo”. O kartódromo completou 24 anos de existência nesta temporada.
De fato, ter um circuito deste porte foi um grande “facilitador” para os kartistas. Durante muito tempo, Guaporé recebeu competições das mais variadas categorias nacionais do esporte a motor, como Stock Car, Fórmula Truck, além de algumas já inexistentes, como a Pick-Up Racing.
O papel das associações
Todas as associações têm suas missões e visões em relação ao kartismo. O que elas têm em comum é o foco no desenvolvimento do esporte. “Nossa proposta sempre foi de promover treinos, realizar corridas e, o principal, gerar novos pilotos”, reforça Mantese.
Já no caso de Venâncio Aires, a missão é a de lembrar da importância do kartismo para a cidade. E uma dessas formas foi “reativar” o kartódromo que, até 2016, “estava bem parado”, com poucas provas e manutenção da infraestrutura. No segundo semestre daquele ano, o clube realizou o Campeonato Amigos do Kart, que contribuiu para o retorno das provas regionais. Tanto que, desde 2017, é palco de pelo menos uma etapa do Campeonato Gaúcho de Kart.
Altos e baixos também fizeram história na AAVA, mas a resiliência é uma palavra que está no dicionário dos vacarienses. A associação é uma das poucas que realiza seu Campeonato Citadino de Kart – que, neste ano, conta com cinco etapas. Além disso, cada gestão contribuiu com o kartódromo como pode para fazer melhorias.
Esta é apenas uma mostra do papel das associações de pilotos de kart no desenvolvimento do kartismo gaúcho. Porém, todo trabalho tem seus desafios, e é isso que você lerá na próxima parte.