O kart rental como categoria de base do automobilismo

Faz tempo que o kart rental deixou de ser apenas a reunião de um grupo de amigos para ver quem é o melhor. Isso ficou ainda mais claro para mim desde que comecei a acompanhar de perto a modalidade, no fim do ano passado.

Conheci as 500 Milhas de Kart Rental e vi como os organizadores se profissionalizam a cada dia.

Entretanto, há um outro ponto que nós precisamos levar em consideração: como ele pode ser um formador de talentos para o esporte a motor nacional.

E chegar a essa conclusão foi fácil. Os motivos estão listados abaixo.

Kart profissional tem custo alto

Pode parecer óbvio, mas, como diz o ditado: o óbvio também precisa ser dito.

Todos sabemos que o esporte a motor todo exige um investimento que nem todos têm como fazer. Exemplos de competidores que desistiram do sonho de pilotar mundo a fora devido aos custos não faltam.

Um desses é a catarinense Juliana Petruschky. Em uma entrevista após a sua conquista de uma vaga para o Mundial de Kart Indoor deste ano, ela foi muito clara: depois de uma carreira bem sucedida no kart profissional, interrompeu os planos porque “o esporte foi ficando cada vez mais caro e acabei parando de correr.”

Depois de um tempo, voltou. Tudo porque conheceu um grupo no Kartódromo Beto Carrero e viu que era a virada de chave necessária.

Profissionalismo cada vez maior

No mesmo papo, Juliana confirmou aquilo que escrevi no início deste texto: as competições estão cada vez mais organizadas. Segundo ela, a modalidade cresceu muito e ainda tem muito mais a crescer.

“Antigamente, chamavam de ‘indoorzeros’, mas hoje em dia vejo muitos ex-pilotos profissionais correndo. Ou seja, não tem nada de amador no esporte”.

Mas não só de ex-pilotos profissionais vive o kart rental. As competições, mesmo, estão mais profissionais, e isso pode ser visto no Endurance de Kart Rental – composto pelas provas de 250 Milhas e de 500 Milhas.

Além da edição deste ano contar com o patrocínio master da KTO, os promotores Davison do Canto Duarte e Tiago Mioli da Rocha criaram uma empresa, a TD Eventos Esportivos. Ou seja, com um CNPJ, mostra que querem alçar voos maiores.

Ou seja: mais do que diversão, se tornou também um negócio. E, quando visto desse viés, muita coisa boa pode acontecer.

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Pilotos com planos para o futuro

Quem acompanha as provas do kart rental verá uma cena comum no kartismo profissional: competidores jovens e cheios de sede para mostrarem o seu valor. Eles têm 14, 15, 16 anos e já sabem o que querem no futuro.

Um exemplo é o piloto Gustavo Reis, que conheci na abertura da temporada do Kart in Senna. Natural de Tramandaí, tinha em mente sair do kart rental e ir para os carros de turismo. Na ocasião, foi bem direto: “eu quero correr”.

Como ele, existem muitos outros pilotos, como Germano Cechin Peruzo e Pedro Henrique. Basta acompanhar suas redes sociais para saber que estão levando tudo isso muito a sério.

Girls on Track usou o kart rental como base

Provavelmente, você já deve conhecer o FIA Girls On Track. A iniciativa mundial é aplicada no Brasil graças ao trabalho firme e forte da Comissão Feminina de Automobilismo (CFA) da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA).

Focado em fortalecer a participação feminina no automobilismo nacional, realizou uma seletiva no início deste ano, no Kartódromo Granja Viana, em Cotia (SP). Na ocasião, teve como campeãs as pilotas Marcella Assumpção, Ana Luiza Pimpão e Mariana Serafim.

Com essa conquista, todas ganharam a oportunidade de participar da Copa Brasil de Kart com tudo pago. De quebra, fizeram história em comporem a maior delegação feminina da história da competição.

Ainda tem dúvidas?

Colocar em dúvida a capacidade do kart rental de revelar novos nomes no automobilismo nacional é simplesmente fechar os olhos para o óbvio. Pois, além dos argumentos já citados ao longo dessa coluna, existem tantos outros que merecem menção.

O principal é em como as marcas já olham para a modalidade. O patrocínio da KTO no Endurance de Kart Rental é apenas um dos vários que vemos por aí. Outra, é a visibilidade: cada vez mais, os organizadores investem em transmissões ao vivo por streaming.

Sem contar, claro, os competidores que conseguem investimentos por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. Tudo isso mostra que o kart rental e o indoor já não são mais os mesmos.

E precisamos vê-los de uma forma diferente se quisermos que o país tenha mais representantes no esporte a motor mundo afora.

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