Adilson Morari, o homem por trás da Garra Racing

Quando a 4ª etapa da Stock Series, realizada entre os dias 16 e 17 de setembro no Velopark (RS), Adilson Morari e os demais integrantes da Garra Racing desmontaram seus três carros, colocaram no caminhão e se deslocaram por cerca de 115km de Nova Santa Rita a Caxias do Sul, onde fica a sede da equipe.

Com a próxima etapa prevista para entre os dias 27 e 29 de outubro, todos poderiam se dar a um certo luxo para descansar após um fim de semana de sol escaldante – ao ponto de queimar os pés de Gabriel Robe, um dos pilotos. Ledo engano. “Todo mundo quer a mesma coisa (ser campeão da Stock Series) e essa reta final é bem intenso o negócio”, conta Morari.

E foi assim, com os bólidos “desmanchados” na oficina, que o comandante da única equipe gaúcha entre os dois campeonatos da Stock Car (Pro Series e Series) conversou de maneira exclusiva com o Push to Cast.

Morari falou com sinceridade sobre o que espera da equipe nas próximas etapas e os planos para a próxima temporada. Entre eles, a possibilidade de ampliar as operações também para a categoria principal.

Garra Racing na Stock Car Pro Series

Logo no início do bate-papo, o caxiense falou dos planos para ingressar na Stock Car Pro Series. Isso porque, a partir desta temporada, o campeão da categoria de acesso receberá uma bolsa de R$ 2,5 milhões, um valor que contribui para dar um passo a mais na carreira do turismo nacional.

E Robe, que já foi campeão da Series quando a Garra Racing se chamava Motortech Competições, disputa o título desta temporada. Atualmente, está na vice-liderança, com 257 pontos (16 atrás do líder Zezinho Muggiati, da W2 Racing Pro GP).

“Vai depender se a gente vai conseguir ser campeão (da Stock Series). Daí a gente vai montar um time lá na Pro Series”, anuncia Morari. Entretanto, é essencial complementar o orçamento. Afinal, se hoje a Garra Racing precisa, em média, de R$ 800 mil para completar uma temporada de um carro, seriam necessários cerca de R$ 3 milhões (nas contas do chefe de equipe) para colocar um na categoria principal.

“Se formos campeões, juntando o que a gente tem (em caixa), já temos os R$ 3 milhões. Então, um carro já está garantido. Com isso, eu teria um cliente para um segundo carro.” Ou seja: as chances de irem para a Stock Pro Series é grande.

Manutenção da equipe na Stock Series

Ao mesmo tempo, Morari não pensa em se desfazer da operação atual. Contente com seus três pilotos – além de Robe, a Garra Racing alinha também com Arthur Gama e Bruna Tomaselli -, ele manterá outros dois carros na categoria de acesso.

“Eu almejo ser campeão na Stock Series. Além disso, o prêmio não é só para esse ano, e a Stock Car sempre vai bancar um piloto da Series na categoria principal”, reflete. Além do mais, as regras devem mudar para 2025 e, mais que a troca de carros, elas também preveem que equipes da Pro Series mantenham, pelo menos, um carro na divisão de acesso.

Segundo Morari, para que isso seja possível, os organizadores estudam uma forma de tornar ambos os certames mais baratos. Uma das possibilidades está na quantidade de etapas.

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Diversidade no lineup

Robe, Gama e Tomaselli vivem momentos distintos na carreira. O primeiro, retornou à categoria a qual foi campeão em 2017 para uma nova fase em sua carreira. Já o segundo, mesmo com apenas 18 anos, é multicampeão gaúcho de turismo.

Por fim, a terceira vem de um mundo totalmente diferente: até 2022, o foco era totalmente nos monopostos. Inclusive, com participação na extinta WSeries. Enquanto alguns podem ver isso como problema, Morari vê como um complemento.

Arthur Gama - Gabriel Robe - Bruna Tomaselli - Pilotos Garra Racing - Duda Bairros e Marcelo Machado de Melo
Arthur Gama (esquerda), Gabriel Robe e Bruna Tomaselli: histórias diferentes no automobilismo. (Montagem de fotos de Duda Bairros e Marcelo Machado de Melo)

“O Arthur, por um detalhe, não venceu a corrida no Velopark. É um cara muito competitivo e, com certeza, vai vencer corridas em um futuro bem próximo”, prevê o dirigente. Conforme ele, justamente por estar em um período de aprendizado, o porto-alegrense ainda não pegou a mão do carro. “Mas é uma questão de tempo para ele vencer corridas.”

E quanto à Bruna?

“Ela me surpreende. Por vir dos monopostos, que é muito diferente, pois é um carro de 1.300kg contra um de 700kg, 650kg como um fórmula”, avalia, para logo emendar: “Achei que ela sofreria mais com essa questão do peso, mas não. A cada corrida, ela melhora muito mais, e é muito boa de corrida.”

De acordo com Morari, em breve a pilota estará brigando por pódio e, quem sabe, cavando uma vaga na Pro Series dentro de alguns anos. “Essa é a meta dela.”

Retorno de prestígio para a Series

Com experiência em diversas categorias regionais e nacionais, como os extintos Campeonato Brasileiro de Turismo, o Mercedes-Benz Challenge e a Pick-Up Racing, Morari vai direto ao ponto sobre a oscilação da importância da Stock Light (nome anterior à Stock Series) ao longo dos anos.

Por exemplo, hoje a categoria conta com 12 pilotos, mas no ano passado teve seis. Em compensação, no início dos anos 2000, quando houve a entrada dos chassis tubulares, chegou a ter mais de 40 carros – com direito a pré-classificação.

Segundo ele, com o tempo, a divisão de acesso começou a perder prestígio. E aponta dois fatores para isso: a falta de apoio aos campeões e os carros serem muito diferentes da categoria principal.

“Não era uma categoria que preparava o piloto para a Stock Car (Pro Series). Daí os caras saíam da Series e iam para um carro totalmente diferente.” Para eliminar essa lacuna, além da premiação ao campeão, Morari revela que os próximos carros serão iguais para ambas as categorias.

Temporada 2023: dentro do planejado

Por fim, claro, não poderíamos deixar a temporada 2023 para trás. E, assim como em toda a conversa, Morari não deixou a sinceridade de lado. O primeiro ponto, foi quanto ao resultado da etapa gaúcha, no Velopark: a Garra Racing e Gabriel Robe chegaram como líderes e saíram como vice-líderes.

“Sabe, eu fiquei meio…”, balbucia, enquanto busca encontrar as razões para o resultado não tão positivo. “A gente tem o peso. Estávamos mais pesados e isso sempre afeta. Agora, eles é quem estão mais pesados, então temos a chance de dar o troco no Velocittá”.

Apesar desse “contratempo”, o dirigente avalia que tudo está conforme o planejado. “Dividimos o campeonato em duas fases. Até o Velopark a gente era líder, então, alcançamos nosso objetivo.”

Mesmo que a ideia central fosse manter a ponta na tabela, mantém as esperanças quanto ao resultado final. Afinal, o uso de lastro e os descartes dos piores resultados se encerram na próxima etapa. Em Interlagos, tudo volta como no início da temporada: tudo igual para todos.

Para que o plano seja bem sucedido, Morari conta com a ajuda de todos os pilotos. “A estratégia é usar a equipe para ganhar o campeonato. Aqui, todo mundo tem esse objetivo”, afirma, referindo-se à necessidade de ficarem o máximo possível à frente de Muggiati e, assim, permitir que Robe desconte pontos cruciais.

“A gente tem três pilotos e eles (W2 Racing Pro GP) têm cinco. Então, vou dizer: teremos corridas, no mínimo, interessantes.”

A Stock Series retorna às pistas para a 5ª etapa entre os dias 26 e 28 de outubro, no Velocittá, em Mogi Guaçu (SP). Já a 6ª e última rodada ocorre nos dias 15, 16 e 17 de dezembro, em Interlagos, em São Paulo (SP).

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