Basta de Helmut Marko!
Quando Helmut Marko, consultor da Red Bull Racing na Fórmula 1 e categorias de base, “elogiou” Sérgio Pérez no ano passado, o alerta já deveria ter acendido em toda a comunidade do automobilismo mundial.
Na ocasião, o austríaco – um forte crítico do mexicano – se mostrou surpreso com o desempenho do piloto na classificação para o Grande Prêmio da Bélgica. Suas palavras foram exatamente estas abaixo:
“Nós estamos positivamente surpresos em como ele foi bem aqui. Foi uma volta incrível, ele a completou facilmente, sem hesitação. Como um sul-americano, Sérgio Checo Pérez geralmente tem muitos altos e baixos.“
Helmut Marko, em 27 de agosto de 2022
Muitos de nós não demos a real atenção às palavras de Marko. Afinal, ele sempre foi um cara sem meias-palavras e, de certa forma, já estávamos acostumados. Além disso, o mexicano estava realmente fazendo uma temporada abaixo das expectativas e, por isso, de certa forma, achávamos que ele “estava coberto de razão”.
Um grande engano nosso.
De novo, Marko?
Pulemos para 2023. Mais de um ano depois – na verdade, exatos 375 dias depois – vem à tona mais uma entrevista do consultor, destilando toda sua crítica sobre Pérez. Dessa vez, muito mais forte.
À Servus TV, após o segundo lugar no Grande Prêmio da Itália – aliás, mesmo posto conquistado na Bélgica no ano anterior – soltou essas exatas palavras:
“Foi certamente um dos melhores finais de semana de Checo e sabemos dos seus problemas na qualificação. Vamos lembrar que ele é sul-americano e é por isso que sua cabeça não está tão focada quanto a de Max ou a de Sebastian.
Mas correr é o seu forte e ele fez uma corrida muito, muito boa. Ultrapassar três pilotos, Russell e Ferrari, não foi fácil, sabíamos que eles eram mais rápidos nas retas.”
Helmut Marko, em entrevista à Servus TV
Só que, agora, vemos que não se trata mais de uma “pegação no pé” do mexicano. O caso é muito mais grave e considerado crime em muitos países, como no Brasil: a xenofobia.
Sim: Helmut Marko propagou xenofobia
Antes de seguir em frente com os argumentos, vamos entender a definição de xenofobia. O dicionário Aulete destaca o verbete como:
- Aversão a pessoas e coisas estrangeiras; XENOFOBISMO
- Antipatia, desconfiança, temor ou rejeição por pessoas estranhas a seu meio ou pelo que é incomum.
Você pode procurar o significado também em outros dicionários, como o Michaelis, o Dicio.com.br, ou digitar o termo “xenofobia define” no Google. Todos, sem exceção, dirão – com suas palavras – a mesma coisa.

Por isso, não é exagero nenhum chamar Marko de xenófobo. Porque, como já vimos, não foi a primeira vez que ele usou toda uma comunidade – no caso, os sul-americanos – para classificar o péssimo desempenho de Sérgio Pérez na Fórmula 1.
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“Nada de novo no front”
De certa forma, podemos dizer que “já estamos acostumados” com esse tipo de comportamento. Basta fazermos um exercício e voltarmos ao nosso tempo de escola, principalmente nas aulas de história.
Quando pequenos, fomos ensinados que o Brasil foi “descoberto” pelos portugueses, mesmo esta terra já sendo ocupada pelos povos originários muito antes de 1.500. Uma visão eurocêntrica do que nos contam e que, por muitos anos, aceitamos sem questionar.
Porém, graças a uma nova visão e autoconhecimento, estamos revisando a nossa história. Logo depois dos anos 2000, começamos a entender como se deu o processo todo e já há professores – ainda bem -, falando a verdade: o Brasil não foi descoberto; ele foi ocupado e saqueado pela Coroa Portuguesa.
Situação semelhante ocorreu nos demais países da América do Sul e das Américas Central e do Norte (esta última, que inclui o México, os Estados Unidos e o Canadá). Porém, como do México para baixo a grande maioria dos países “don’t speak English” (e, em alguns casos, “je ne parle pas français”), somos tratados como inferiores.
É assim que Marko trata Pérez. Para ele, o fato de ser latino-americano torna o mexicano menos habilidoso que o seu companheiro de equipe. E, de novo, aquele “Como um ‘sul-americano'” não está na frase por acaso.
É hora de agir contra isso
Já parou para pensar em quantas vezes usamos a idade avançada para passar o pano quando ofensas como essa ocorrem? Seja em casos de xenofobia, de racismo, de misoginia, volta e meia alguém fala “Nem dá bola. Ele é velho e não vai mudar a cabeça”.
No caso do Marko, tem algo a mais: é comum alguém dizer algo como “Não sei como vocês se espantam, ele sempre foi assim.”
Porém, agora a história é outra. Como já expus ao longo desse texto, está bem claro que o austríaco menospreza os latino-americanos. Acha-se superior apenas por ser do “Velho Continente”.
Não é mais espanto. As manifestações que vieram, principalmente no Twitter, foram fortes e deixam claro que está na hora da Red Bull Racing dar um basta no seu conselheiro.
Não se pode negar que Marko contribuiu, muito, para a equipe se tornar o que ela é hoje. Mas o sucesso esportivo não pode estar acima dos Direitos Humanos. E a xenofobia é uma afronta a eles.
Por isso, este colunista fala com todas as letras:
BASTA DE HELMUT MARKO!