Campeonato amador que de amador tem nada

Quando a gente fala em campeonatos de kart rental, a primeira coisa que vem à mente é “isso é coisa de amador”. Afinal, muitos grupos surgiram da reunião de amigos que queriam ser piloto mas não conseguiram. Com isso, encontraram no kart de aluguel uma maneira se tornarem um.

Com o tempo, o negócio cresceu de uma forma bem interessante.

De alguma forma, os grupos são como “entidades sem fins lucrativos”. Os promotores até cobram pelas inscrições, mas não ficam com nenhuma parcela para si.

Ou seja: são amadores, mas tratam com muito profissionalismo.

A rotina de uma etapa de kart rental

Passava das 8h do dia 18 de março quando Fernando Lobato, do Kart in Senna, confirmou a realização da etapa inaugural do grupo. O convite para acompanhar o evento ocorrera dias antes, e a ansiedade já batia à minha porta.

Isso porque, além de ser jornalista, escolhi essa profissão para ficar mais perto do automobilismo. Entretanto, com o tempo, fui deixando para trás as coberturas in loco e in casa.

Dito isso, era de se entender essa minha ânsia por voltar assistir uma prova ao vivo. Ainda mais em um kartódromo que eu não pisava desde a sua inauguração, como o do Velopark.

A carona chegou por volta das 9h.

(E, aqui, vale uma informação adicional: Lobato e eu nos conhecemos há mais de 20 anos, mas perdemos contato tempos atrás devido às circunstâncias da vida. Agora, por causa do kart rental, retomamos essa amizade. Que loucura, não?)

“Até chegar lá e montar a estrutura, demora”, resumiu. E, realmente, demora.

Carro-maleta de Newt Scamander

Newt Scamander é um personagem do mundo do Harry Potter. Uma de suas peculiaridades é a maleta que carrega. Por fora, parece nada demais. Mas, por dentro, há praticamente uma selva de animais fantásticos.

Podemos fazer essa analogia com o carro do Lobato. “Está vendo tudo isso aqui? É o que tenho de levar para o kartódromo.” E, em uma rápida olhada, não era pouca coisa.

Tudo fica pronto muito antes dos pilotos chegarem à pista (Foto: Rodrigo Dias/Push to Cast)

No banco traseiro, estavam os troféus para serem entregues vencedores de cada bateria das categorias Graduados e Super Graduados. Atravessado entre o banco do carona e o do motorista, repousavam as bandeiras do Kart in Senna.

Tudo isso sem contar os infláveis e equipamentos para enchê-los, que estavam acomodados no porta-malas.

Enfim, se a gente cansa só de olhar, imagina quem está lá para fazer tudo funcionar?

Sai o amador, entra o profissional

Se tem algo que aprendi como jornalista esportivo era que chegar cedo ao local era essencial. Não só era, como continua sendo, a melhor maneira de entender como as coisas são feitas e pescar algo que quem chega em cima da hora não consegue ver.

E o que percebi foi o profissionalismo da coisa toda. Mal chegamos no complexo kartista de Nova Santa Rita, encontramos Maiquel da Silva. Além de ser pai do piloto Gustavo Reis, auxiliou Lobato em tudo o que precisava nessa etapa inaugural.

Por isso, chegar antes de todo mundo foi essencial para os dois. Foi o necessário para conseguirem montar a estrutura antes dos pilotos chegarem.

Primeiro, encher o inflável da Multisider, apoiadora da competição, e colocá-lo atrás do pódio para fotos. Em seguida, fazer o mesmo trabalho com o da liga. Depois, Lobato e Maiquel se dividiram: enquanto um instalava as bandeiras, outro organizava os troféus em uma mesa.

Tudo isso sob um calor infernal de 32 graus com sensação térmica de 40 graus.

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Muito além das provas

Seria muito fácil para mim, como um jornalista, considerar a organização de um campeonato fácil. Afinal, eu chego, faço fotos, coleto informações, volto para casa e escrevo os conteúdos.

Porém, como já tenho experiência nessa área, sei que o trabalho começa muito antes. É como se fala sobre as Olimpíadas: assim que termina, já se começa o planejamento da próxima.

E podemos dizer que é isso que fazem todos os diretores de ligas, como o Lobato do Kart in Senna, o Gustavo Coelho e o Cesar Dias do BahKart Racing, o Lucas e Mateus Mattos do Kart Haus e o pessoal da CKA Kart e da K1 Kart com as 500 milhas de kart ao longo do ano.

Para definirem os valores das inscrições, muitas coisas são levadas em conta: locais de realização de provas, datas prováveis das corridas, quantas categorias e limite de pilotos em cada uma, revisão e atualização dos regulamentos, e por aí vai.

Isso tudo sem contar as outras questões, como aquisição de troféus, fotógrafos e divulgação. São coisas que entram na conta todos os anos para que tudo saia nos conformes.

Jogo de cintura

Uma das grandes preocupações de quem organiza um evento desse porte é entregar aquilo que os pilotos querem, baseado no valor da inscrição que pagaram. E nem sempre é fácil.

Por exemplo, o Velopark aumentou o valor das baterias pouco tempo antes dos campeonatos de diversas ligas começarem.

Isso deu uma dor de cabeça, pois os regulamentos já haviam sido publicados. Sem contar que a maioria deles contemplava corridas de 5 minutos de treino mais 25 minutos de corrida.

Nesses casos, entra em jogo o “jogo de cintura”. O famoso “poder de negociação”. Foi assim que Lobato conseguiu manter um valor interessante para pilotos. Dessa forma, evitou uma mudança repentina de praça esportiva ou adiamento de prova.

Em vez dos cinco minutos de treino, foram três. No lugar dos 25 de corridas, foram 18.

Isso, como dito antes, não se faz num passe de mágica. A não ser que você seja o Voldemort.

Nada de amador

Com isso, fica fácil concluir que campeonatos amadores de kart rental têm nada de amadorismo. Muito pelo contrário. A visão de muitos organizadores é de alguém profissional. Mesmo que eles não percebam isso.

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