O fandom precisa de limites

O anúncio da Aston Martin feito nesta sexta-feira jogou um balde de água fria nas expectativas dos brasileiros. Enquanto todos torcíamos para estreia de Felipe Drugovich na Fórmula 1, a equipe confirmou a presença do titular Lance Stroll no Grande Prêmio do Bahrein. E o fandom em torno do “Drugo”, ou no desespero de ter alguém do país na categoria, mostrou que precisa de limites.

Isso porque, após a informação dos britânicos, muitos dos que se dizem fãs da categoria começaram a lançar dúvidas sobre a lesão do canadense.

De um lado, houve quem questionasse se não era uma “jogada de marketing” da equipe para criar um fato novo – como se a estreia de Fernando Alonso pela equipe já não fosse o suficiente. Entre os argumentos para questionar a existência da lesão de Stroll foi o posicionamento do curativo no pulso direito – quase imperceptível.

De outro ponto, há quem coloque em xeque quando o acidente ocorreu. Afinal, quebrar os dois pulsos e fazer cirurgia em um deles deve demandar um bom tempo de recuperação, como bem disse o Narrador X neste tuíte:

Apesar de plausível o questionamento sobre a data exata, a gente precisa entender que: 1) Stroll é um atleta de alto rendimento; 2) o piloto fez a cirurgia com o médico Xavier Mir, que já cuidou de diversos atletas da MotoGP, como Marc Marquez.

Ou seja: devemos ter cuidado com as nossas análises.

Agora que já fiz todo esse esclarecimento, vamos ao que quero abordar neste texto: o fandom precisa de limites.

Mas, afinal, o que é fandom?

Confesso que este termo é muito recente para mim. Sou da época em que os fãs faziam fãs-clubes. Durante muito tempo, o vocábulo “fandom” me remetia ao K-Pop. Até que, aos poucos, percebi que isso acontece em todos os segmentos.

Neste artigo, publicado pelo Meio e Mensagem em 2021, o planner da ArtPlan, Gabriel Veras, explica o conceito de maneira bem interessante:

“Trata-se de um fenômeno que só existe graças a um mundo em que a internet está sempre presente, expandido conexões e fortalecendo bolhas. E como quase tudo que vem do digital, esses agrupamentos trazem um novo nível de engajamento e horizontalidade às relações e aos atores envolvidos. Agora, a dinâmica deixa para trás a apreciação passiva e ganha tração ao trazer envolvimento ativo, dinâmico, com foco em conversas e na co-criação.”

Gabriel Veras

Em resumo, pode-se dizer que o fandom participa da narrativa que até então era “exclusiva” dos seus ídolos.

Entretanto, tem vezes que essa turma pode mais prejudicar do que ajudar.

Lembra do BBB 17?

Talvez você não se lembre, mas o Big Brother Brasil de 2017 foi uma das mais polêmicas. Naquela edição, o participante Marcos Harter foi expulso da casa devido a “indícios de agressão” a Emily Araújo, sua parceira no programa.

Neste texto publicado à época, o articulista Robson Gomes mostrou que uma parte dos “fãs” aceitava toda a situação. No lugar de condenar as agressões psicológicas contra a participante, o fandom dizia que era sinal de “atitude” e “coragem” do agressor, que subvertia o politicamente correto. Lembra muito o “red pill” em voga, não?

Por que trazer o fandom para o automobilismo?

Desde que Drugovich substituiu Stroll na pré-temporada, as esperanças de vê-lo no Grande Prêmio inaugural da temporada aumentaram muito. Ainda mais com os resultados obtidos durante as sessões, que o colocaram de sobreaviso caso o canadense não possa correr.

E é aqui que o bicho pega. Basta ver este tuíte abaixo, com uma coletânea de “mensagens” do fandom brasileiro para Stroll.

Há quem diga que foi nada demais, mas… será mesmo?

Não foi uma brincadeira

Felipe Drugovich terá a sua chance na categoria

Depois desse post, muita gente foi defender os perfis dizendo que era uma brincadeira. Mas a gente sabe que não é.

Uma coisa é dizer “Sossega e se recupera”. Outra, muito diferente, é “torcer” para que fechem a porta do avião nas mãos dele, ou que vai quebrar o tornozelo.

Por mais improvável que essas pessoas seguissem em frente, isso mostra como tem uma turma que não sabe o limite das coisas.

Até porque a gente sabe muito bem qual seria a reação dos brasileiros se as mensagens fossem no sentido contrário, né?

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