Bugs, trapaças e pilotos virtuais irritados
A temporada de provas de longa duração no automobilismo virtual não começou bem. De um lado, Max Verstappen reclamou com força das 24 Horas de Le Mans Virtual, da Motorsport Games no rFactor 2. De outro, pilotos e equipes reclamaram de trapaças ao longo das 24 Horas de Daytona, prova promovida pela VCO na plataforma iRacing.
Entretanto, o evento do simulador mais usado no mundo teve um contexto pior: em duas ocasiões, os pilotos da Williams Esports foram pegos em atitudes antidesportivas. A primeira, envolve um bug conhecido há um tempo pela plataforma. Já a segunda traz um flagrante desrespeito a uma competição sadia.
E, o pior de tudo: parece que os envolvidos acreditavam que ninguém veria nada – como se não houvesse replay.
Bug no sistema, alguém se aproveitou
Antes de começar, peço que dê o play no vídeo abaixo. Não precisa assistí-lo por completo. Bastam os 43 primeiros segundos.
Notou algo de errado? Caso tua resposta seja “não”, assista ao vídeo abaixo. Nele, verá uma volta de outra equipe – em outra categoria – em uma volta rápida de classificação.
Viu como os dois pilotos fazem linhas diferentes? Enquanto o de baixo está sempre na pista, à direita da linha amarela, o de cima – da Williams Esports – ultrapassa essa linha para “cortar caminho”. Pode parecer besteira para alguns, mas isso dá uma grande vantagem ao piloto.
Dessa forma, a equipe britânica marcou a melhor volta e largou na posição de honra de uma das mais tradicionais provas do automobilismo virtual.
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Não tem essa de “pole position serve de nada”
Em provas de longa duração, largar na frente não faz muita diferença. A análise em si está correta apenas se levarmos em conta a situação de corrida.
Como se trata de um evento mundial, com pilotos reais e virtuais profissionais e equipes com grande aporte financeiro, faz muita diferença. Isso porque, quando se larga na ponta, se tem mais visibilidade.
O carro e a equipe terão mais exposição na mídia – principalmente a especializada – e os patrocinadores ficam felizes com isso. Até porque uma grande parte dos investimentos é feita por empresas ligadas ao setor de eSports.
Ou seja: a pole position serve para muita coisa, inclusive em provas de endurance.
Trapaças escancaradas durante a prova
Ao contrário das 24 Horas de Le Mans, não pude acompanhar corrida estadunidense do jeito que queria. Porém, este Twitch do Dan Suzuki pedindo um pronunciamento oficial do iRacing chamou muito a atenção.
Como todo jornalista curioso, cliquei no post do Pablo Araujo e coloquei o vídeo para rodar. E o que a gente vê é revoltante. E o ponto que mais chama a atenção é o jogo de equipe antidesportivo feito pelos integrantes da Williams Esports.
Bandeira azul serve para o quê?
Não importa se é uma categoria chancelada pela FIA, como a Fórmula 1, ou uma competição com regras até certo ponto “próprias”. Todos sabemos que, no automobilismo, a bandeira azul significa dar passagem para o piloto que está atrás.
Essa determinação ocorre porque, quem recebe esse alerta, sabe que vai tomar volta.
E os simuladores de corrida integraram isso em suas inteligências artificiais. Seja iRacing, Assetto Corsa, RaceRoom ou Automobilista, todos apresentam a bandeira azul aos retardatários.
Contudo, para os pilotos da classe GTD da Williams Esports, a interpretação parecia diferente.
Em diversas ocasiões, o piloto que estava atrás se negou a dar passagem para os líderes da categoria. Para a equipe, quem estava no volante deveria fazer o papel de fiel escudeiro e atrapalhar os adversários diretos.
Aliás, não foram raros os momentos em que houve “disputa por posição” entre o retardatário e o piloto que deveria ter a vantagem. Em uma delas, teve uma clara vontade de jogar o adversário na grama para acabar de vez com as chances.
Caso não acredite, basta dar o play no vídeo abaixo. É longo? É! Mas necessário para se tirar a prova.
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Pilotos irritados (e com razão)
O que se viu depois da denúncia foi uma onda de reclamação e xingamentos no Twitter. E não podemos tirar a razão da galera. Mesmo que ninguém seja ingênuo e saiba que trapaças sempre existirão, é necessário fazer mais para coibí-las.
Afinal, assim como a Williams Esports, todas as outras têm algum tipo de investimento por trás. Só que, lógico, os recursos são muitas vezes inferiores.
E quando o embaixador da equipe, o campeão mundial de Fórmula 1 Jenson Button, questiona o banimento de um piloto por ter “forçado os limites do jogo”? Por mais que não seja a intenção, dá a sensação de que tudo bem fazer isso. “Deleta a volta e fim de papo”.
Então, é lógico que a coisa vai degringolar. Nada justificam as supostas ameaças que alguns pilotos receberam, mas convenhamos: a Williams também não se ajuda. Basta ver o post abaixo
Em um primeiro momento, diz que está investigando o que aconteceu na prova. Porém, tenta desviar o foco para exigir respeito dos demais a todas as equipes e pilotos envolvidos.
Como disse uma pessoa nos comentários: “Querem o respeito de todas as equipes da mesma forma que os seus pilotos fizeram durante o Daytona 24?”
É! Refresco nos olhos dos outros é refresco.
O que pode ser feito para evitar mais trapaças?
Não é de hoje que os envolvidos nas competições de simracing exigem uma postura diferente do iRacing. Até porque situações como essas não são raras.
Por exemplo, nas 24 Horas de Spa do ano passado, alguns pilotos descobriram um bug na plataforma. Muitos viram que, ao pisar com as rodas de fora na grama, o carro ganhava mais velocidade.
Pelo que soube, mesmo com reclamação, a organização manteve os resultados. Ou seja, deu de ombros, porque era um erro da plataforma.
Por isso, faz muito sentido o pedido de terem uma equipe de comissários ativa na plataforma. Dessa forma, as análises e punições podem ser feitas no ato, e não com o envio de reclamação posterior.
Se vai dar certo, não sabemos. Como disse alguns parágrafos acima, trapaças sempre vão existir.
Mas é algo a se pensar.