Automobilismo é mais negócio que esporte

Enquanto o Brasil se divide entre saber se os eSports são ou não esporte, quem acompanha o esporte a motor sabe há tempos: o automobilismo é mais negócio que um esporte propriamente dito.

Isso fica claro quando olhamos para trás. Por exemplo, quantas montadoras entraram e saíram da Fórmula 1 nos últimos anos?

Só nos anos 2000, tivemos a Jaguar, a Toyota, a Honda, e a Renault. Estas duas últimas, são histórias um tanto quanto estranhas. De um lado, os japoneses desistiram de ter numa equipe para voltar seus focos aos motores. De outro, os franceses quase saíram da categoria, mas permaneceram após mudar o nome para Alpine F1 Team.

Ao mesmo tempo, além da nova marca francesa de carros esportivos, também temos o ingresso da Aston Martin (após comprar a Force India e reformular a Racing Point) em 2021. Sem contar a Audi, que será parceira da Sauber no lugar da Alfa Romeo.

O que todas elas têm em comum: entendem que o automobilismo é um negócio. Usam a plataforma para divulgar suas marcas e a permanência depende de uma série de fatores.

Neste texto, é sobre isso que vamos falar.

Ganhar nem sempre é tudo

O que você faria se comandasse a parte esportiva de uma montadora e que conquistou dois títulos consecutivos de em um campeonato? Provavelmente, permaneceria nesse campeonato para mostrar sua força frente à concorrência, não?

Para algumas pessoas, essa lógica não persiste. Entretanto, não para Toto Wolff e a Mercedes na Fórmula E. Após levar Nyck de Vries e Stoffel Vandoorne ao topo da categoria, o alemão achou que era hora de se desfazer da operação.

Segundo esse texto publicado no Motorsport.com.br, o retorno estava abaixo do esperado.

“Chega um ponto em que, como equipe de fábrica, se você quiser competir, precisa de 40, 50 milhões de euros, e o retorno do investimento era baixo demais para isso” Toto Wolff

E, como a gente sabe, quanto menor a audiência, menor exposição da marca para as pessoas. No caso de montadoras, isso pode gerar um efeito negativo nas vendas de veículos.

Não é a primeira vez

Engana-se quem pensa que isso foi algo inédito vindo da montadora. A Mercedes, multicampeã da Deutsche Tourenwagen Masters (DTM) saiu do campeonato após a temporada de 2018.

Para quê?

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Não podemos ser ingênuos. Quando se trata de automobilismo, as questões comerciais sempre virão à tona. Talvez, elas sejam mais importantes do que a questão esportiva.

Quer exemplos? Se liga nos próximos tópicos.

Categorias Monomarcas

Antes de tudo, quero esclarecer que não sou contra campeonatos monomarcas. Para mim, têm um papel fundamental tanto no desenvolvimento de pilotos, quanto na divulgação de veículos para o público.

Entretanto, confesso que elas estão “um pouco abaixo” do meu gosto por categorias multimarcas. Só que, a gente sabe: durante muito tempo, os nossos certames contaram apenas com uma montadora em seu apoio.

Stock Car Brasil

Este, talvez, seja o exemplo mais longevo que temos. Por mais que a categoria, hoje, tenha a Chevrolet e a Toyota, nem sempre foi assim.

Aliás, durante muito tempo a Stock Car Brasil contou apenas com a representante da GM no Brasil.

Primeiro, com o Opala. Em seguida, dando lugar para os Ômegas e Vectras. Ou seja, durante muito tempo, ela foi categoria de uma montadora apenas.

Só depois vieram outras marcas, como Peugeot e Mitsubishi.

Porém, existem mais exemplos.

Porsche Cup Brasil

Este é outro campeonato que veio para ficar. Desde 2005, a montadora alemã tem uma categoria para chamar só de sua em nossas terras.

São quase 20 temporadas de um campeonato que atrai cada vez mais pilotos. Inclusive, aqueles que não têm a atividade como sua renda principal. Por exemplo, o ator Caio Castro participa de diversas corridas da categoria.

Isso significa que o campeonato é atrativo. Quando se tem “atrações” como um artista global, se torna uma grande oportunidade de atingir novos segmentos.

Copa Shell HB20

Para finalizar os exemplos, cito a Copa Shell HB20. Criada em 2019, também é uma categoria monomarca. Entretanto, ao contrário das anteriores, o investimento inicial é um tanto menor.

Isso ocorre porque tem um carro popular como sua “personagem principal”. Depois, vem um ponto principal: foi criada pela H. Racing Garage. Essa empresa nada mais é que uma concessionária da Hyundai Motor Brasil.

O que todas têm em comum?

De uma forma ou de outra, são usadas como plataformas de vendas de seus produtos para um determinado segmento. Fica fácil chegar a essa conclusão. Nestes casos, são os carros. Mas, ao mesmo tempo, outros setores se beneficial.

Outra situação são os pneus. Para este ano, a Pirelli deu lugar à Hankook Tire como fornecedora de pneu. Essa troca ocorreu, também, por questões comerciais.

Entendeu porque o automobilismo é mais um negócio do que um esporte?

Não tem nada de errado nisso

Se formos ver, praticamente todos os esportes são usadas de forma comercial. Muitos movimentam uma quantia enorme de dinheiro, que vão desde direitos de transmissão à contratos de patrocínio. E não tem nada de errado nisso.

Afinal, muitos dos seus protagonistas são profissionais. Logo, precisam que o esporte dê dinheiro para que eles também ganhem o seu.

Não é à toa que, até hoje, a Andretti Autosport não conseguiu apoio suficiente para entrar na Fórmula 1. Como muito bem disse Toto Wolff: é necessário saber o que ela tem a acrescentar na categoria como um negócio.

Além, claro, do alemão e outros chefes de equipe não quererem repartir a fatia milionária do bolo.

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