Teto de gastos no automobilismo nacional funciona?
Quem assistiu a temporada completa da Stock Series se surpreendeu com a disputa neste ano. Entretanto, duvido que tenha sido de forma positiva. Afinal, foram apenas oito pilotos distribuídos em seis equipes em todas as oito etapas do ano. Convenhamos, isso é pouco. Muito pouco.
Ainda mais se compararmos com a Stock Car Pro Series. Por um lado, esse comparativo pode soar injusto. Em compensação, é o mais fiel possível.
Primeiro, porque a Stock Series sempre fez parte do evento Stock Car. Em segundo lugar, é ela que, por lógica, cria a base de novos pilotos para a categoria principal. Por fim, e o mais importante: o investimento por temporada é muito inferior.
Então, se tem tudo isso, por que houve tão pouco carro na pista da Stock Series?
A resposta não é fácil de encontrar. Por isso, até o momento, eu não escrevi o termo “teto de gastos”.
Estamos mal acostumados
Talvez, você acompanhe a Nascar assim como eu e sabe que todas as três divisões (Cup Series, Xfinity e Truck) são transmitidas pelo BandSports no Brasil – e eram, até ano passado, pela Fox Sports. Já nos Estados Unidos, quem detém os direitos de transmissão são a Fox Sports e a NBC Sports.
E, sabe o que elas têm em comum?
Transmitem todas as divisões em um só canal. Além disso, no caso das emissoras estadunidenses, ambas têm perfis próprios no Twitter – que você pode ver aqui e aqui.
Dessa forma, acredito que nós ficamos mal acostumados com as transmissões.
Contudo, você deve se perguntar: “O que isso tem a ver com o teto de gastos?”
Calma. Precisamos ir um pouco mais a fundo.
Leia mais
O que esperar da Nascar Brasil Sprint Race
Transmissões da Stock Car no Brasil
Agora, vamos trazer a discussão sobre a divulgação da maior categoria de automobilismo no Brasil. Para este ano, a Vicar Promoções Desportivas optou pela divulgação em dois canais de TV. De um lado, a Band no sinal aberto. De outro, o SporTV no sinal fechado.
Porém, houve um agravante (ao meu ver): ambas ficaram apenas com a categoria principal. À já citada Stock Series, restaram o também já mencionado BandSports e o canal no YouTube. Conclusão: isso afeta tudo o que os patrocinadores mais almejam – a exposição de suas marcas.
O teto de gastos na Stock Series
Antes de tudo, precisamos entender que o automobilismo não é um esporte barato. O investimento exigido é alto e, no caso da Stock Car Pro Series, chega na casa dos milhões de reais. Nesta entrevista ao SuperPod, do canal Auto Super, o piloto Cacá Bueno deu a real.
Segundo ele, uma temporada completa na categoria custa entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões. Entretanto, esse cálculo pode ser ainda maior, pois depende dos benefícios que o piloto e a equipe vão oferecer aos patrocinadores. Aqui, se inclui um pacote de hospitalidade, como camarote na pista, visitas, brindes, etc.
Custo da Stock Series sem teto de gastos
Como falei no tópico anterior, o esporte a motor é caro. Logo, se percebe que competir na Stock Series, mesmo como uma divisão de base, exige um bom investimento. Apesar de não encontrar o valor exato, podemos ventilar algo entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão por temporada.
Afinal, se o valor fosse abaixo disso, não teria porque a promotora do evento implementar o teto de gastos de R$ 750 mil já para 2023 na Stock Series. Ainda mais com um pacote que envolve, entre outras coisas, subsídio da taxa de inscrição e premiação de R$ 700 mil.
Mesmo assim, é um custo elevado para um país com uma situação econômica cambaleante. Conforme um relatório da ONU, o Brasil terá uma “desaceleração abrupta” e PIB baixo também no próximo ano.
Então, quer dizer que devemos nos desesperar?
Definitivamente não.
Dignity Gold GT Sprint Race e Copa Shell HB20
Trago esses dois certames porque acredito serem boas referências para nós. Apesar de terem bastante diferença entre si, elas têm algo em comum: o custo de uma temporada é relativamente baixo – se comparado com a Stock Series, claro.
Por exemplo, a Dignity Gold GT Sprint Race. Foi criada há dez anos por Tiago Marques e mantém uma base interessante: é a categoria que assume toda a logística, preparação e manutenção dos carros. Talvez por isso a temporada custe cerca de R$ 500 mil por ano, conforme o próprio organizador disse nesta entrevista.
Nesse mesmo sentido, temos a Copa Shell HB20. Em atividade desde 2019, chegou à sua quarta temporada com a mesma proposta de baixo custo: média de R$ 200 mil por temporada.
Percebeu algo nas competições que citei?
Tirando a Stock Car Pro Series e a Stock Series, todas as demais citam os seus patrocinadores máster. É o chamado naming right, que a gente não vê muito por aqui – se falarmos em transmissões de futebol.
Isso faz uma grande diferença para quem investe na categoria, já que tem o seu nome citado em diversos tipos de mídia. Inclusive nas transmissões, sejam em canal aberto, por assinatura ou por streaming.
Veja também
Rubens Barrichello, o monstro das pistas brasileiras
Teto de gastos resolve?
A resposta para essa pergunta é um sonoro “depende”. Falo isso porque depende muito da proposta com essa redução de teto de gastos. Por exemplo, vimos a implantação dessa ferramenta na Fórmula 1, com a proposta de diminuir a distância entre as equipes, e não deu muito certo – tanto esportivamente quanto de controle.
Todavia, é um debate muito importante a se fazer. Lewis Hamilton e Sebastian Vettel já pediram que as categorias de base da Fórmula 1 – inclusive o kart – tenham redução de custos.
Então, faz total sentido implementar no Brasil.
Vem “ninóis”, teto de gastos!
Apesar da Stock Series ser uma categoria nacional, a medida tem um caráter louvável: o aumento de carros no grid, igual a anos anteriores.
Aliás, isso tudo é o que nós, apaixonados por automobilismo, queremos.